A maioria dos pacientes com ceratocone apresentam quadro inicial da doença e podem obter boa visão com óculos ou lentes de contato gelatinosas.
Pacientes com ceratocone moderado ou avançado geralmente necessitam de lentes de contato rígidas gás-permeáveis para conseguir atingir boa qualidade de visão e adaptam-se bem a essas lentes. O uso das lentes de contato não tem por objetivo interromper a progressão da doença. O Ceratocone deixa de progredir quando o paciente abandona o hábito de coçar ou apertar os olhos.
O pagamento das despesas relacionadas à aquisição de lentes de contato é realizado pelo paciente. Lentes esclerais podem custar mais de 5 vezes o preço de lentes de contato rígidas gás-permeáveis. As despesas com lentes esclerais ou lentes de contato gás-permeáveis não são incluídas na cobertura dos planos de saúde ou SUS.
A lente de contato rígida gás-permeável é a lente mais indicada para ceratocone moderado ou avançado. A Lente Escleral não é a primeira escolha para portadores de ceratocone.
Lentes de contato para ceratocone leve ou pouco avançado
Muitos pacientes com ceratocone têm boa visão sem necessidade de óculos. Óculos comuns, sem lentes especiais, permitem boa qualidade de visão para a maioria dos pacientes com ceratocone leve ou moderado e o uso de lentes de contato é opcional.
Lentes de contato para ceratocone moderado
Caso o paciente tenha boa visão com óculos, o uso de lentes de contato é opcional. Muitos pacientes com ceratocone moderado não enxergam bem com óculos e o uso de lentes de contato rígidas gás-permeáveis é necessário para que o paciente tenha boa visão.
A maioria dos pacientes com ceratocone avançado têm boa visão com lentes de contato gás-permeáveis. Alguns pacientes podem precisar de transplante de córnea. Em raros casos, lentes esclerais podem representar uma alternativa temporária à cirurgia.
Diferentes médicos, diante do mesmo paciente, frequentemente diferem quanto ao diagnóstico e/ou quanto ao tratamento indicado.
As lentes esclerais foram inicialmente testadas no final do século XIX, em torno de 1880-1890 e eram fabricadas em vidro. O seu uso em pacientes com ceratocone iniciou-se na década de 1930. A partir da década de 1940, as LC com diâmetro menor, lentes corneanas, passaram a ser rotineiramente utilizadas em portadores de ceratocone. As lentes esclerais passaram a ter uso e indicações restritas.
As lentes esclerais estão indicadas em doenças graves da superfície ocular: síndrome de Stevens-Johnson, ceratite de exposição, irregularidades severas da superfície ocular, astigmatismo irregular severo decorrente de cirurgia refrativa ou pós-transplante de córnea, olho seco severo. A partir de 2006, houve aumento exponencial na utilização das lentes de contato esclerais. Esse aumento deveu-se, principalmente à sua indicação em pacientes com ceratocone.
As LC esclerais não são a primeira escolha para portadores de ceratocone. A grande maioria dos pacientes com ceratocone adaptam-se bem, com boa acuidade visual, usando simplesmente óculos, lentes gelatinosas descartáveis ou lentes de contato corneanas rígidas gás-permeáveis.
As LC esclerais podem representar uma boa alternativa para portadores de ceratocone muito avançado, o que é muito raro. Alguns desses pacientes podem necessitar transplante de córnea.
As lentes esclerais têm alto custo e não estão incluídos na cobertura dos planos de saúde ou SUS. O paciente é levado a arcar com o custo das lentes esclerais, antes de tentar lentes de contato de manuseio mais simples, baixo custo e alta taxa de sucesso. Existem outras opções de lentes de contato de daptação mais fácil, manuseio mais simples, menor preço.
Diferentes médicos, diante do mesmo paciente, frequentemente diferem quanto ao diagnóstico e/ou quanto ao tratamento indicado. Yehuda Waisberg, autor desse texto, é médico oftalmologista com vasta experiência no atendimento e adaptação de lentes de contato em pacientes com ceratocone. Ao aconselhar seus pacientes, adota postura conservadora, priorizando opções de tratamento pouco invasivos, de menor risco e menor custo para o paciente.
O que é ceratocone: Ceratocone ou córnea cônica é uma doença adquirida que surge usualmente na infância e adolescência e a prevenção do ceratocone é possível. A característica principal da doença é o desenvolvimento de deformação cônica da córnea. Essa deformação prejudica a visão devido a presença de astigmatismo irregular.
Incidência: O ceratocone é relativamente comum e alguns estudos recentes indicam que essa doença pode ser identificada em 1 a 3% da população. No passado, quando os métodos de diagnóstico eram imprecisos, a córnea cônica era considerada rara, com estimativas de 1 em cada 25.000-250.000 habitantes.
Etiologia: O aparecimento do ceratocone está relacionado ao trauma decorrente de pressão mecânica sobre as pálpebras e sobre o olho, geralmente relacionados ao hábito de coçar ou esfregar os olhos com violência.
Prevenção do Ceratoconeapresenta os quatro níveis de prevenção do ceratocone: Prevenção primária, secundária, terciária e quaternária.
Prevenção primáriaé a ação tomada para remover causas e fatores de risco, antes do desenvolvimento da doença. A recomendação para crianças e adultos no sentido de evitarem coçar, apertar ou massagear os olhos é o método mais eficaz de prevenção primária do ceratocone.
Prevenção secundária é a ação realizada para detectar a doença em estágio inicial. A realização de exames oftalmológicos periódicos é o método mais eficaz para a prevenção secundária. Durante a consulta, o oftalmologista investiga a existência do hábito de esfregar os olhos. O exame da topografia da córnea identifica estágios iniciais do ceratocone.
Prevenção terciária é a ação implementada para reduzir os prejuízos funcionais consequentes do ceratocone. Na maioria das vezes consiste em prescrever óculos ou lentes de contato. A prevenção terciária corresponde à atuação tradicional do médico.
Prevenção quaternária é a detecção de indivíduos em risco de intervenções médicas diagnósticas ou terapêuticas, geralmente de alta complexidade e custo elevado, que poderiam ser evitadas. A prevenção quaternária tem por objetivo buscar alternativas de tratamento e aconselhamento eticamente aceitáveis para expor o portador da doença a menores riscos. Exemplos de procedimentos que poderiam ser evitados em portadores de ceratocone são: cross linking, colocação de anel corneano, adaptação de lentes de contato esclerais, cirurgia de catarata com implantação de lente intraocular estenopeica**.
Como pode ser feita a prevenção quaternária: O paciente deve demonstrar interesse em compreender os riscos e benefícios das intervenções indicadas pelo médico. Consulta de segunda opinião com outro médico especialista* constitui a maneira mais eficaz de se evitar procedimentos invasivos ou de alto custo, conhecer melhor sua doença e buscar tratamentos eficazes e com menores riscos.
** Cross linking e implante de anel corneano intra estromal estão classificados na categoria de procedimentos cirúrgicos e invasivos e estão incluídos na cobertura dos planos de saúde e do SUS. Adaptação de lente escleral e cirurgia de catarata com implante de lente intraocular estenopeica não estão cobertos por planos de saúde ou SUS e os custos são pagos pelo paciente. Os custos de lentes de contato não estão incluídas na cobertura de planos de saúde.
* Diferentes médicos, diante do mesmo paciente, frequentemente diferem quanto ao diagnóstico e/ou quanto ao tratamento indicado. Yehuda Waisberg, autor desse texto, é médico oftalmologista com vasta experiência no atendimento e adaptação de lentes de contato em pacientes com ceratocone. Ao aconselhar seus pacientes, adota postura conservadora, priorizando opções de tratamento pouco invasivos, de menor risco e menor custo para o paciente. Marcar Consulta Virtual
Esses pacientes são tratados como se fossem portadores de glaucoma, mas a sua condição é glaucoma imaginado.
Os pacientes que poderiam interromper o tratamento de glaucoma geralmente são: “suspeitos de glaucoma”, “pressão ocular elevada”, “escavação aumentada”, “história familiar de glaucoma”, “sadios preocupados” e “portadores da doença vermelha”.
Doença vermelha (“red disease”) é a condição de pessoas normais que apresentam alterações do OCT para glaucoma, por motivos variados e não por serem portadores de glaucoma.
Diversos pacientes recebem a recomendação de tratarem de glaucoma apesar do baixo risco de desenvolvimento de alterações características de glaucoma ou perda de visão.
O tratamento preventivo através do uso diário causa ansiedade e outros sintomas psíquicos relacionados ao medo da cegueira, condição que recebe o nome de escotomofobia. Os pacientes sofrem os efeitos indesejáveis do uso diário dos colírios, como sensação de olho seco, vermelhidão nos olhos e outros efeitos indesejáveis e são penalizados com o custo do tratamento.
A recomendação de um tratamento desnecessário é um dos exemplos de uma tendência da medicina moderna que se utiliza da difusão do medo das doenças e na convicção de poder evitá-las. Essa abordagem médica gera dependência de exames que devem ser repetidos periodicamente e do uso de medicamentos por toda a vida. Os pacientes não recebem explicações claras sobre a opção do não tratamento e sobre custos e efeitos colaterais do tratamento.
No que se refere aos pacientes que apresentam o glaucoma bem caracterizado, aproximadamente 50% estão em tratamento coreto da doença. Estes pacientes devem se conscientizar da importância de seguirem corretamente o tratamento recomendado, para interromper ou retardar a progressão da doença, evitando a perda de visão.
Entretanto, aproximadamente 50% dos portadores de glaucoma desconhecem que precisam de tratamento e sua doença não foi diagnosticada. Muitos pacientes quando são diagnosticados, já são As campanhas públicas deveriam dar ênfase nos grupos de maior risco, com objetivo de identificar portadores da doença glaucoma ao invés de portadores de glaucoma imaginado.
É um teste realizado em consultório oftalmológico, quando um paciente apresenta uma redução da visão e o médico deseja fazer a distinção entre uma baixa de visão relacionada a um erro refracional, que pode ser corrigido entes de óculos ou lentes de contato, de alguma outra doença.
Utiliza-se um cartão ou oclusor com pequeno orifício de 0, 5 a 2 mm. O teste é realizado em cada olho separadamente. O paciente procura ler letras à distância através do orifício, sem que esteja usando óculos ou lentes de contato, enquanto o outro olho permanece ocluído. Se a visão através do buraco estenopeico melhora, isto indica que a visão pode ser melhorada com óculos ou lentes de contato, caso contrário provavelmente a baixa de visão não pode ser corrigida desta maneira.
Este teste frequentemente é utilizado por crianças, em suas brincadeiras.
Óculos Estenopeicos
São óculos com lentes negras, nas quais existem diversos buracos de 0,5 a 2 mm ou uma fenda estreita, que permitem melhorar a visão de longe e de perto, em substituição às lentes de óculos ou lentes de contato. A melhora da visão decorre da redução da difração da luz e aumento da profundidade de foco, quando se enxerga através de uma pequena abertura.
A ideia do uso de lentes estenopeicas ou óculos com lentes estenopeicas para auxiliar pacientes com astigmatismo irregular como ceratocone, teve seus princípios óticos explicados por Valdés em 1623. Foi empregada clinicamente pelo oftalmologista francês Serre em 1857 e Fras Dinders em 1864.
A grande desvantagem do orifício estenopeico é a redução da quantidade de luz que entra no olho. A redução da luminosidade e a redução do campo de visão são incômodos que comprometem o seu uso constante. Duke-Elder, em seu tratado de oftalmologia (1970), considera o uso de lentes estenopeicas para melhorar a visão de longe e de perto como um método obsoleto, de uso restrito.
Recentemente, a utilização das propriedades óticas do braço estenopeico ressurgiu na oftalmologia como uma das abordagens cirúrgicas para presbiopia e astigmatismo irregular (implante corneano estenopeico Kamra para presbiopia, implante de lente intraocular estenopeica e implante de lente intraocular estenopeica para ceratocone).
LIO estenopeica para ceratocone
Recentemente, divulgou-se na mídia proposta de um oftalmologista sobre tratamento cirúrgico que supostamente restituiria a visão a portadores de ceratocone. Trata-se de procedimento cirúrgico invasivo para tratamento do ceratocone. Não há publicações científicas para avaliar a segurança e as indicações dessa cirurgia e os custos do procedimento são pagos pelo paciente. A cirurgia não é aprovada pela Agência Nacional de Saúde (ANS).
Não existem estudos científicos publicados que comprovem a segurança e eficácia da LIO estenopeica para ceratocone. Os resultados dessa cirurgia invasiva e de alto custo nunca foram comparados com as alternativas seguras e de baixo custo existentes.
O tratamento consiste na realização de extração e substituição do cristalino transparente, que corresponde a uma cirurgia de catarata em pacientes que não apresentam catarata. No ato cirúrgico são implantadas duas lentes intraoculares (LIO), uma sobre a outra. A primeira LIO é para substituir o cristalino e a segunda é uma lente negra com uma pequena aberta.
A penetração da luz e das imagens no olho ficam restritas à passagem por esta pequena abertura. A função da pupila deixa de atuar. Em condições normais, a pupila controla a quantidade de luz que penetra no olho. Em ambientes com luminosidade alta a pupila diminui de diâmetro e em ambientes de baixa luminosidade, a pupila aumenta de diâmetro. O pequeno orifício da lente negra implantada é denominado buraco estenopeico, que conduz à denominação de lente intraocular estenopeica (em inglês, pinhole intraocular lens). A imagem através de um orifício estenopeico é mais nítida para longe e para perto porque ocorre redução de aberrações óticas relacionados à irregularidade da córnea, característica do ceratocone.
Existem algumas aplicações do uso do orifício estenopeico na oftalmologia. Algumas informações sobre essas aplicações podem ser acessadas clicando nos termos seguintes: Teste da acuidade visual com buraco estenopeico -– óculos estenopeicos — implante intracorneano estenopeico KAMRA —Lente estenopeica de fixação iriana.
É fundamental que o paciente compreenda o caráter experimental e as características da cirurgia de implante de LIO estenopeica para ceratocone e conheça as alternativas de tratamento para o seu caso. Caso ocorram complicações, pode haver dificuldade em solucionar os problemas. O tema de prevenção do ceratocone e a necessidade de evitar procedimentos de maior risco é apresentada em Ceratocone: Prevenção.
Diferentes médicos, diante do mesmo paciente, frequentemente diferem quanto ao diagnóstico e/ou quanto ao tratamento indicado. Yehuda Waisberg, autor desse texto, é médico oftalmologista com vasta experiência no atendimento e adaptação de lentes de contato em pacientes com ceratocone. Ao aconselhar seus pacientes, adota postura conservadora, priorizando opções de tratamento pouco invasivos, de menor risco e menor custo para o paciente. Marcar Consulta Virtual
Rede Globo, ceratocone, LIO estenopeica
“Never in previous history has medical quackery been such a booming business as now” —- “paradox: the concurrent rise in 20th-century America of modern medical science and of pseudo-medical nonsense”
James Harvey Young – The Medical Messiahs; 1967; 1975; 1992; Princeton University Press
A Rede Globo, apresentou reportagem e postou texto e vídeo em seu site G1, sobre tratamento “inovador” para o ceratocone. Trata-se do uso de lente intraocular (LIO) estenopeica para o tratamento do ceratocone.
É um exemplo de jornalismo de má qualidade A rede globo promoveu pseudociência e estimulou cirurgia experimental em seres humanos.
Na reportagem, a Rede Globo entrevistou pessoa residente em área rural de Minas Gerais que, emocionada, relatou ter se submetido à referida cirurgia e apresentou suas impressões sobre o tratamento. A Rede Globo deixou de informar o que é ceratocone, o que é possível fazer para evitar o seu aparecimento ou progressão, como evolui a doença na maioria dos portadores da doença, quais os tratamentos existentes e qual o sucesso que é possível se obter com esses tratamentos. A Rede globo optou por fazer divulgação sensacionalista de uma cirurgia sobre a qual não há estudos científicos publicados que permitam analisar indicações, taxas de sucesso e complicações.
O tratamento apresentado é experimental e envolve a realização de cirurgia de catarata em pacientes que não apresentam catarata. Durante a cirurgia, implanta-se duas lentes intraoculares, uma delas tradicionalmente utilizada na cirurgia da catarata e outra lente intraocular, proposta pelo médico que idealizou a cirurgia, lente preta com pequeno orifício central. Esta lente reduz a quantidade de luz que entra no olho e impede ou dificulta o exame de fundo de olho, o controle do glaucoma e o tratamento de doenças da retina como a retinopatia diabética.
A divulgação de pseudociência promovida por jornalistas, em programas de televisão ou outros meios de divulgação, decorre de ausência de políticas editoriais relacionadas à identificação de pseudociência. Observa-se também falta de treinamento ou despreparo de jornalistas ou diretores editoriais que analisam releases ou informações recebidas de contatos pessoais (Cortinãs-Robira e col, 2014; CRM-SP, 2009). Sampson (1996) destaca que frequentemente a técnica jornalística envolve a busca de um paciente satisfeito ou o autor de alguma proposta qualquer. Esta metodologia jornalística favorece tendências de divulgação de tratamentos novos, não testados, que acabam abandonados devido à sua ineficácia ou às suas complicações. Envolve frequentemente interesses financeiros dos fornecedores da “novidade”, a exploração da credulidade humana e a busca de soluções milagrosas de problemas. Na reportagem, a Rede Globo não informou que o médico entrevistado que realiza a cirurgia tem interesses financeiros relacionados à fabricação da lente que ele utiliza em seus pacientes.
Cortinãs-Rovira, S; Alonso-Marcos, F; Pont-Sorribes, C; Escribà-Sales, E. Science journalist’ perceptions and attitudes to pseudoscience in Spain. Public Understanding of Science, 1-16, 2014
CREMESP – Jornalismo na área de saúde: é preciso separar o joio do trigo antes de divulgar assuntos médicos. Revista do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, ed. 46 – Jan/fev/março de 2009
Sampson, W. Antiscience trends in the rise of the “alternative medicine” movement. Ann NY Acad Sci 1996 ; 775: 188-97
Tratamento da Retinose Pigmentar em Cuba
“Nunca na história passada, o charlatanismo médico foi um atividade comercial tão efervescente como atualmente” …. “é um paradoxo: o crescimento simultâneo da ciência médica moderna no século 20, ao lado do crescimento da falta de senso da pseudo-ciência médica”
JH Young – The Medical Messiahs
Retinose Pigmentar
Retinose pigmentar é um grupo heterogêneo de doenças oculares genéticas que acometem a retina, causam cegueira noturna, redução do campo de visão e podem levar à cegueira. Ocorre em todo o mundo, atinge homens e mulheres, é uma doença crônica que apresenta evolução variável entre os pacientes. Não existe tratamento capaz de alterar o curso da doença.
Por se tratar de doença que não dispõe de tratamento com eficácia comprovada, diversos tratamentos ineficazes foram promovidos ao longo dos séculos e vendidos para obter lucro. Alguns desses tratamentos, quando divulgados, foram recebidos com entusiasmo e promoveram verdadeiras peregrinações de pacientes. Em todos os casos, acabaram descartados devido à sua ineficácia, falta de fundamento e ausência de trabalhos científicos que comprovassem os alegados resultados.
Tratamento da Retinose Pigmentar em Cuba
Na década de 1990 difundiu-se no Brasil e em outros países, notícia sobre a existência de um tratamento para a retinose pigmentar desenvolvido em Cuba. Apesar da ausência de evidências científicas, este tratamento secreto e milagroso, atraiu muitos portadores da doença, em busca de tratamento da doença genética para a qual a oftalmologia mundial nada podia oferecer.
O isolamento de Cuba devido ao regime político totalitário e a ideia de que a medicina estaria avançada nesse pequeno País, ajudou a revestir de mistério o alegado tratamento, como que justificando o desconhecimento do resto de mundo. A ausência de publicações em revistas internacionais fez com que oftalmologistas brasileiros, embora desconhecendo em que consistia o secreto tratamento, se manifestassem no sentido da inexistência de tratamentos eficazes para a doença, seja em Cuba ou em qualquer outra parte do mundo.
A estratégia cubana para tratamento da retinose pigmentar consistiu em tratamento combinado multi-terapêutico através de quatro procedimentos aplicados aos candidatos em busca da alegada cura. Envolvia 3 semanas de hospitalização com custo de aproximadamente 10.000 dólares. Recomendava-se repetição de alguns procedimentos a cada seis meses, a um custo aproximado de 4.000 dólares (Duquette, 2010).
Os quatro procedimentos do tratamento cubano consistiam em:
1) procedimento cirúrgico supostamdente fundamentado em teoria vascular, ou cirurgia revitalizadora temporal, de transposição autóloga, pediculada, de gordura retro-orbitária para o espaço supra-coroideo (Molina – vídeo);
2) Ozonioterapia, aplicada diariamente durante 15 dias, com o equipamento Ozomed, por via retal mediante a introdução de uma sonda fina através do anus(Aguiar & Baéz, 2009). Segundo Aguiar e col. (2015), a ozonoterapia também pode ser realizada através de 10 aplicações de auto-hemoterapia. Neste caso, retira-se 200 ml de sangue do paciente e submete-se o sangue coletado ao tratamento com ozônio, no próprio frasco de coleta e, em seguida, se administra o sangue na veia do paciente;
3) Eletroterapia ou eletroestimulação, aplicada nas regiões cervical e plantar dos pacientes com o equipamento EQ-1604, com voltagem fixa de corrente sinusoidal de baixa frequência por um período de 10 minutos, durante 10 dias;
4) Magnetismo diretamente na região ocular, com o equipamento Geo-200, durante 20 minutos, diariamente por 10 dias (Espinosa e col., 2010)
A ozonioterapia, a eletroterapia e o magnetismo, segundo os proponentes, são técnicas de medicina natural, terapia eficaz para complementar a reabilitação visual. Alegam que, além de inócuos, são baratos e seguros para diferentes doenças infecciosas, inflamatórias, circulatórias e degenerativas, com capacidade para destruir bactérias, vírus e fungos. Os efeitos desse tratamento seriam passageiros, tornando necessário repetir as aplicações com frequência pré-determinada, segundo critérios personalizados para cada paciente (Aguiar & Baéz, 2009; Espinosa e col, 2010).
O tratamento cubano não encontrou respaldo na literatura mundial e não foram publicados trabalhos que confirmassem a sua eficácia. Duas revisões sobre o tema (Duquette, 2010; Fishman, 2013) concluíram que o tratamento não apresenta relação com as causas da doença, provoca danos em alguns pacientes, não há comprovação de que tenha efeito, carece de validade e não deve ser recomendado. Essas revisões evidenciaram riscos de diversas complicações como estrabismo e infecções e mesmo piora da visão, além de danos psicológicos relacionados à falsa esperança ou à decepção cruel, além da perda financeira.
A notícia deste tratamento difundiu-se no Brasil e muitos pacientes ajuizaram ações para obrigar o Estado a arcar com esse tratamento não disponível no Brasil. O judiciário brasileiro deu guarida a grande número de demandas e condenou o Estado a custear viagem e tratamento para muitos pacientes, em um dos exemplos de judicialização da saúde envolvendo pseudociência.
O tratamento cubano da retinose pigmentar causou enormes prejuízos ao sistema de saúde pública brasileiro, com o custeio da viagem e tratamento de muitos brasileiros portadores de retinose pigmentar, impostas por sentenças judiciais em primeira instância e mesmo no STJ. Em 2011, o STJ deu provimento à demanda de pacientes e impôs ao Ministério da Saúde a obrigação de pagar viagem e tratamento da retinose pigmentar em Cuba. Na ocasião, um dos ministros favorável a impor ao Estado Brasileiro o onus de viagens e tratamento em Cuba, argumentou: “pelo que leio nos veículos de comunicação, o tratamento dessa doença, com êxito, está realmente em Cuba”, enquanto outro ministro afirmava “Eu sou muito determinado nessa questão de esperança” (Notícias STF, 13/4/2011).
Tratamento da Retinose Pigmentar no Brasil – Décadas de 1980-1990
No Brasil, já tivemos o nosso equivalente ao tratamento cubano da retinose pigmentar fundamentada em pseudociência. Trata-se da injeção de “fator de transferência” obtido do sangue de doadores, que ficou conhecida como “vacina para paralisar a progressão da retinose pigmentar” (Amorim e col., 2005; Rocha, 1987; Gonçalves, 2011), desenvolvida no Instituto Hilton Rocha(IHR) e que esteve disponível apenas neste local, durante vários anos na década de 1980 e 1990. Houve verdadeira peregrinação de portadores de retinose pigmentar oriundos de diferentes regiões do Brasil, que afluíam a este Instituto que, nessa ocasião, detinha grande prestígio nacional, para serem tratados com essa “vacina”.
Poucas são as referências a este tratamento, mas pode-se encontrar na internet o relato esporádico de pacientes que dizem ter recebido este tratamento. Segundo relatos de pacientes (Isabele AA, 2010; Yolanda V, 2010), os pacientes eram atendidos no IHR, onde se indicava repetir todos os anos exame de campo visual manual, retinografia de contraste e um exame de sangue no laboratório do próprio IHR para medir os “antígenos da retina”. Após os resultados, era feita a indicação do uso da vacina, que era aplicada 3 dias da semana por 4 semanas, repetindo-se o tratamento em intervalos de 6 meses. Os exames e o tratamento eram cobrados dos pacientes.
O Instituto Hilton Rocha deixou de funcionar há mais de uma década e esse tratamento era oferecido apenas nessa Instituição, a exemplo do tratamento oferecido apenas em Cuba. O tratamento vendido no IHR consistia na injeção de “vacinas com fator de transferência” preparadas com material extraído do sangue de doadores. Não foi possível comprovar a eficácia desse tratamento e não foram publicados estudos sobre resultados e complicações. O tratamento foi abandonado por não ter sido comprovada qualquer eficácia e devido ao risco de transmissão de doenças como hepatite e AIDS, transmitidas através do uso de material extraído do sangue de doadores.
Os tratamentos oferecidos em Cuba e no Instituto Hilton Rocha exemplificam a promoção e venda de produtos ou tratamentos sabidamente não eficazes ou que não foram adequadamente testados.
Evita-se a palavra charlatanismo ao se referir à divulgação sensacionalista de práticas de cura que carecem de fundamento científico ou a exploração da credulidade pública, induzindo pacientes a acreditarem em tratamentos cujos benefícios não estão comprovados. Referir-se a alguém como charlatão pode gerar acusação de crime de calúnia, caso este indivíduo não tenha sido condenado em devido processo judicial. Charlatanismo é crime previsto no Código Penal: inculcar ou anunciar cura por meio secreto ou infalível ou exercer o curandeirismo é infração passível de pena de detenção, além de multa. Entretanto, para receber a alcunha de charlatão há que se submeter a demorado processo judicial e é muito raro que isso ocorra, mesmo na existência de provas contundentes.
Tratamentos para retinose pigmentar são exemplos de uso de pseudociência, supervisionada e oferecida por médicos de prestígio. O respaldo de autoridades é uma das estratégias para legitimar procedimentos não aprovados pela medicina e exemplifica a obtenção de lucro com tratamentos ineficazes .
As modalidades de tratamento da retinose pigmentar, cubana ou brasileira, podem ser classificadas como práticas não convencionais de tratamento médico, medicina alternativa ou complementar e representam uma das facetas do pluralismo médico. Este grupo heterogêneo de práticas dirigidas ao tratamento ou cura de doenças coexiste com a medicina tradicional que procura fundamentar as suas práticas em evidências científicas. Entre as práticas de cura alternativa estão: cura através de cristais, galvanismo, magnetismo, cura através da dieta ou suplementos nutricionais, homeopatia, cura pela mente, medicina étnica e numerosos outras modalidades de abordagem à doença ou ao sofrimento humano.
O avanço do conhecimento científico e o surgimento de métodos de diagnóstico e tratamento reconhecidamente eficazes não reduziu a atração do ser humano pelas práticas alternativas de cura, não fundamentadas em evidencias científicas. Pelo contrário, observa-se crescimento do mercado ligado às diferentes modalidades de medicina alternativa ou complementar. Estudos sociológicos das práticas de cura evidenciam que sempre existiram diversas correntes de pensamento sobre as abordagens à doença e ao sofrimento humano.
Portadores de doenças crônicas, particularmente que tendem a evoluir desfavoravelmente, com o atendimento oferecido pela medicina tradicional são particularmente atraídos e vulneráveis a tratamentos ineficazes. Notícias sobre opções de tratamento que ainda não foram adequadamente testados, o sensacionalismo e o desejo de obter lucro fácil fazem com que seja impossível o controle de diferentes abordagens que atraem candidatos a utilizá-las. A alcunha pejorativa de charlatanismo foi substituída por termos como pseudociência ou como abordagens não ortodoxas de tratamento de doenças, pluralismo médico, medicina alternativa ou complementar.
Referências
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Dia Nacional de Combate à Cegueira
Dia 26 de maio é o Dia nacional de combate à cegueira causada pelo glaucoma.
O Cristo Redentor, na Cidade do Rio de Janeiro, é iluminado na cor verde para lembrar este dia e conscientizar a população sobre o glaucoma. A cor verde está associada ao glaucoma porque a palavra glaucoma, originada do grego, tem como um dos seus significados a cor verde-azul.
A Associação Brasileira dos Amigos, Familiares e Portadores de Glaucoma – ABRAG e diversas clínicas oftalmológicas promovem atividades para conscientização sobre a doença. A Sociedade Brasileira de Glaucoma – sbglaucoma, associada ao Conselho Brasileiro de Oftalmologia estimula a divulgação de notícias e outras atividades relacionadas à data. Jornais, revistas, programas na televisão e páginas da internet apresentam informações sobre o glaucoma e a importância do diagnóstico e tratamento adequado para prevenir a evolução da doença, que pode provocar a cegueira em um ou em ambos os olhos .
Entretanto, divulga-se conceitos errados sobre o glaucoma. Praticamente todas as notícias ou textos dão ênfase às seguintes informações incorretas: 1) “o glaucoma é caracterizado pelo aumento da pressão ocular”; 2) “a medida da pressão ocular é a melhor maneira de se prevenir o glaucoma”.
A utilização isolada da medida da pressão intraocular para identificar o glaucoma e para prevenir a cegueira foi abandonada há muitos anos por dois motivos: 1) Muitos pacientes portadores da doença, inclusive em estágio avançado deixam de ser identificados — refere-se a isto como alta porcentagem de falso-negativos, ou seja, pessoas portadoras da doença que são consideradas normais apenas por apresentarem pressão intraocular na faixa da normalidade; 2) Muitas pessoas normais, que não são portadoras de glaucoma e possivelmente nunca apresentarão a doença, são identificadas como “suspeitos de glaucoma” ou “portadoras de glaucoma” apenas porque a pressão ocular foi encontrada moderadamente elevada; refere-se a isto como alta porcentagem de falso-positivos, ou seja, pessoas normais que recebem o diagnóstico do glaucoma e passam a ser tratadas desnecessariamente.
Porque a data não é utilizada para divulgar conceitos corretos sobre a doença? Para que identificar pessoas jovens que possam ser classificadas como “suspeitas de glaucoma”, apesar do baixo risco de desenvolverem a doença ou desenvolverem perda de visão causada pela doença?
Porque os esforços não são dirigidos para identificar as pessoas que apresentam maior risco de cegueira por glaucoma não diagnosticado, como pessoas idosas, particularmente aquelas que apresentam baixa de visão em um ou em ambos os olhos?
Muitos pacientes normais, que não são portadores de glaucoma mas apenas apresentam a pressão ocular moderadamente elevada, recebem o diagnóstico de glaucoma e passam a usar colírios pelo resto de suas vidas.
Glaucoma é um grupo de doenças no qual pode ocorrer perda de visão decorrente de dano no nervo ótico (neuropatia ótica). As duas formas mais comuns de glaucoma são o glaucoma de ângulo aberto e o glaucoma de ângulo fechado Juntos constituem a principal causa de perda irreversível da visão o mundo, cada um sendo responsável por aproximadamente 50% dos casos.
Nos países do mundo ocidental a forma mais comum de glaucoma é o glaucoma de ângulo aberto e em parte da Ásia o glaucoma de ângulo fechado.
O diagnóstico de glaucoma deve ser afastado em toda consulta oftalmológica pois os portadores da doença podem não manifestar sintomas.
O glaucoma é uma doença crônica e progressiva. No caso do glaucoma de ângulo fechado, a doença pode se manifestar de forma aguda, dolorosa, com risco de perda de visão rápida e constitui uma emergência médica.
O diagnóstico do glaucoma se baseia nas alterações características na cabeça do nervo ótico e na perda de campo visual. Outros dados do exame oftalmológico obtidos na anamnese, seguidos da medida da acuidade visual, biomicroscopia e gonioscopia, entre outros, são importantes para se firmar o diagnóstico. A medida da pressão ocular é indispensável, mas deve-se sempre ter em mente que, na presença do glaucoma, a pressão intraocular pode estar elevada ou não. A redução da pressão intraocular é a única intervenção que comprovadamente previne a perda de visão. O tratamento do glaucoma visa a redução da pressão ocular e é feito através do uso de colírios, laser ou cirurgia.
Médicos e leigos tendem a armazenar um padrão mental de referência para cada doença (schemata ou profiling), que é utilizado para formação do diagnóstico, frente às queixas dos pacientes e aos achados do exame médico. O padrão armazenado referente ao glaucoma, que é influenciado pelas ideias apresentadas nas campanhas de prevenção da cegueira por glaucoma, é utilizado nos processos cognitivos cerebrais para definir a hipótese de diagnóstico do glaucoma. As campanhas de prevenção da cegueira estimulam o armazenamento de conceitos errados sobre o glaucoma e podem causar prejuízo à saúde pública: a doença deixa de ser identificada em muitos pacientes e podeprogredir em direção à cegueira, por falta de tratamento. Ao mesmo tempo, muitos pacientes que não são portadores de glaucoma são tratados como tal, sem necessidade, com impactos psicológicos sobre o paciente e custos desnecessários para o sistema de saúde.
Entenda porque óculos multifocais podem custar tão caro e porque comprar uma lente cara não significa que você está adquirindo uma lente melhor.
Cada fabricante de lentes multifocais para óculos oferece diferentes modelos de lentes e para cada modelo oferece diversas opções de materiais, tratamento antirreflexo (AR) e cores.
Isto acontece com as lentes multifocais fabricadas pela Essilor (Varilux), Zeiss, Rodenstock ou Hoya, apenas para citar algumas indústrias que produzem lentes multifocais para óculos.
Oftalmologistas não recebem informações técnicas precisas sobre as características de cada modelo e a visita de representantes comerciais tem por objetivo reforçar fidelidade ao fabricante ou à marca comercial. Os oftalmologistas são estimulados a “recomendar” o nome do fabricante da lente multifocal nas suas prescrições: por exemplo, lente sugerida “lentes multifocais xxxx“. Essa recomendação não se fundamentda em conhecimento científico sobre vantagens e desvantagens comparativas entre as diversas lentes de diferentes fabricantes. O material informativo que o médico recebe é superficial e vago com relação às características técnicas e reais vantagens ou desvantagens dos diferentes modelos oferecidos por cada fabricante. As figuras apresentadas nos folhetos de propaganda são meramente ilustrativas e não retratam os campos de visão para longe, meia-distância e perto, vantagens, desvantagens ou estudos comparativos com lentes de outras marcas ou modelos.
Os dados a seguir são reais e se aplicam a todos os fabricantes. Os preços são aqueles recomendados pelo fabricante para um par de lentes, no segundo semestre de 2015. Vamos omitir o modelo e fabricante da lente apresentada como exemplo, lentes progressivas marca XX Modelo YY :
A lente multifocal marca XX modelo YY está disponível nas óticas como lente incolor, fotocromática ou polarizada. As lentes incolores estão disponíveis com índices de refração 1,50; 1,60; 1,67 ou policarbonato; cada uma destas opções é oferecida sem tratamento antirreflexo (AR) ou com 3 diferentes tipos de tratamento AR, com diferentes preços — 15 diferentes opções para lente incolor, com preços que variam entre R$ 915,00 até R$ 2.705,00 pelo par de lentes. O mesmo modelo, é oferecido em lentes fotocromáticas, com índices de refração 1,50; 1,60; 1,67 ou policarbonato, também sem tratamento AR ou com 3 diferentes tipos de tratamento AR —- 15 diferentes opções, com preços que variam entre R$ 2.200 até R$ 4.090,00 o par. Está também disponível sob a forma de lente polarizada com tratamento AR apenas interno — 6 diferentes tipos de tratamento AR, com preços variando entre R$ 2.605,00 até R$ 3.565,00 o par . O cliente pode, ainda escolher aplicar um filtro colorido, em diversos tons de cinza, marrom, verde, azul, etc., com acréscimo que varia de R$ 30,00 até R$ 195,00 o par.
Em resumo, a lente marca XX modelo YY é oferecida em 36 diferentes opções, às quais podem ser acrescidas diversas tonalidades de cores. Este modelo de lente pode custar ao paciente R$ 915,00/par até R$ 4.285,00/par. Deve ser enfatizado que trata-se do mesmo “modelo” de lente multifocal.
Cada fabricante oferece diversos modelos, o que leva a centenas de opções de lentes para cada fabricante, com diferentes nomes comerciais. O oftalmologista, assim como o funcionário da ótica que atendem ao paciente, desconhecem vantagens e desvantagens reais destas centenas de opções oferecidas por cada fabricante. Os clientes fazem suas escolhas com base em informações que recebem na ótica, cujo interesse é vender lentes mais caras e com maior potencial de lucro. A cada ano são lançados novos modelos.
Elevados preços não indicam necessariamente melhor qualidade das lentes multifocais e não garantem maior facilidade de adaptação aos óculos com lentes multifocais. Os clientes devem se precaver para não serem levados a adquirir lentes com custo excessivo, sem uma correspondente relação com vantagens reais sobre outras lentes do mesmo modelo ou de outros modelos ou fabricantes, com custo mais acessível.