Glaucoma Imaginado

  1. Aproximadamente 50% dos pacientes que estão em tratamento para glaucoma não precisariam usar colírios todos os dias.
  2. Esses pacientes são tratados como se fossem portadores de glaucoma, mas a sua condição é glaucoma imaginado.
  3. Os pacientes que poderiam interromper o tratamento de glaucoma geralmente são:  “suspeitos de glaucoma”, “pressão ocular elevada”, “escavação aumentada”, “história familiar de glaucoma”, “sadios preocupados” e “portadores da doença vermelha”.
  4. Doença vermelha (“red disease”) é  a condição de pessoas normais que apresentam alterações do OCT para glaucoma, por motivos variados e não por serem portadores de glaucoma.
  5. Diversos pacientes recebem a recomendação de tratarem de glaucoma apesar do baixo risco de desenvolvimento de alterações características de glaucoma ou perda de visão.
  6. O tratamento preventivo através do uso diário causa ansiedade e outros sintomas psíquicos relacionados ao medo da cegueira, condição que recebe o nome de escotomofobia. Os pacientes sofrem os efeitos indesejáveis do uso diário dos colírios, como sensação de olho seco, vermelhidão nos olhos e outros efeitos indesejáveis e são penalizados com o custo do tratamento.
  7. A recomendação de um tratamento desnecessário é um dos exemplos de uma tendência da medicina moderna que se utiliza da difusão do medo das doenças e na convicção de poder evitá-las. Essa abordagem médica gera dependência de exames que devem ser repetidos periodicamente e do uso de medicamentos por toda a vida. Os pacientes não recebem explicações claras sobre a  opção do não tratamento e sobre custos e efeitos colaterais do tratamento.
  8. Laboratórios farmacêuticos, clínicas de oftalmologia, oftalmologistas proeminentes, Sociedades Médicas ligadas à oftalmologia promovem campanhas de prevenção da cegueira pelo glaucoma. Estas campanhas amealham sadios preocupados e portadores de glaucoma imaginado sob o argumento de prevenir a doença antes do seu aparecimento. A prescrição de medicamentos para usopor toda a vida e a realização periódica de exames pode envolver conflitos de interesse entre o que é melhor para o paciente e os interesses de clínicas e laboratórios farmacêuticos.
  9. No que se refere aos pacientes que apresentam o glaucoma bem caracterizado, aproximadamente 50% estão em tratamento coreto da doença.  Estes pacientes devem se conscientizar da importância de seguirem corretamente o tratamento recomendado, para interromper ou retardar a progressão da doença, evitando a perda de visão.
  10. Entretanto, aproximadamente 50% dos portadores de glaucoma desconhecem que precisam de tratamento e sua doença não foi diagnosticada. Muitos pacientes quando são diagnosticados, já são As campanhas públicas deveriam dar ênfase nos grupos de maior risco, com objetivo de identificar portadores da doença glaucoma ao invés de portadores de glaucoma imaginado.
  11. Pacientes que estão em tratamento de glaucoma, particularmente pacientes com menos de 50 anos de idade e exame de campo visual normal podem ser orientados sobre os riscos da doença, através de uma consulta médica de segunda opinião, virtual ou presencial.

Dia Nacional de Combate à Cegueira

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Dia 26 de maio é o Dia nacional de combate à cegueira causada pelo glaucoma.

O Cristo Redentor, na Cidade do Rio de Janeiro, é iluminado na cor verde para lembrar este dia e conscientizar a população sobre o glaucoma. A cor verde está associada ao glaucoma porque a palavra glaucoma, originada do grego, tem como um dos seus significados a cor verde-azul.

A Associação Brasileira dos Amigos, Familiares e Portadores de Glaucoma – ABRAG e diversas clínicas oftalmológicas promovem atividades para conscientização sobre a doença. A Sociedade Brasileira de Glaucoma – sbglaucoma, associada ao Conselho Brasileiro de Oftalmologia estimula a divulgação de notícias e outras atividades relacionadas à data. Jornais, revistas, programas na televisão e páginas da internet apresentam informações sobre o glaucoma e a importância do diagnóstico e tratamento adequado para prevenir a evolução da doença, que pode provocar a cegueira em um ou em ambos os olhos .

Entretanto, divulga-se conceitos errados sobre o glaucoma. Praticamente todas as notícias ou textos dão ênfase às seguintes informações incorretas: 1) “o glaucoma é caracterizado pelo aumento da pressão ocular”; 2) “a medida da pressão ocular é a melhor maneira de se prevenir o glaucoma”.

A utilização isolada da medida da pressão intraocular para identificar o glaucoma e para prevenir a cegueira foi abandonada há muitos anos por dois motivos: 1) Muitos pacientes portadores da doença, inclusive em estágio avançado deixam de ser identificados — refere-se a isto como alta porcentagem de falso-negativos, ou seja, pessoas portadoras da doença que são consideradas normais apenas por apresentarem pressão intraocular na faixa da normalidade;      2) Muitas pessoas normais, que não são portadoras de glaucoma e possivelmente nunca apresentarão a doença, são identificadas como “suspeitos de glaucoma” ou  “portadoras de glaucoma” apenas porque a pressão ocular foi encontrada moderadamente elevada; refere-se a isto como alta porcentagem de falso-positivos, ou seja, pessoas normais que recebem o  diagnóstico do glaucoma e passam a ser tratadas desnecessariamente.

Porque a data não é utilizada para divulgar conceitos corretos sobre a doença? Para que identificar pessoas jovens que possam ser classificadas como “suspeitas de glaucoma”, apesar do baixo risco de desenvolverem a doença ou desenvolverem perda de visão causada pela doença?

Porque os esforços não são dirigidos para identificar as pessoas que apresentam maior risco de cegueira por glaucoma não diagnosticado, como pessoas idosas, particularmente aquelas que apresentam baixa de visão em um ou em ambos os olhos?

Muitos pacientes normais, que não são portadores de glaucoma mas apenas apresentam a pressão ocular moderadamente elevada, recebem o diagnóstico de glaucoma e passam a usar colírios pelo resto de suas vidas.

Conceito corretos:  (www.icoph.org; International Council of Ophthalmology; ICO Guidelines for Glaucoma Eye Care)

Glaucoma é um grupo de doenças no qual pode ocorrer perda de visão decorrente de dano no nervo ótico (neuropatia ótica). As duas formas mais comuns de glaucoma são o glaucoma de ângulo aberto e o glaucoma de ângulo fechado Juntos constituem a principal causa de perda irreversível da visão o mundo, cada um sendo responsável por aproximadamente 50% dos casos.

Nos países do mundo ocidental a forma mais comum de glaucoma é o glaucoma de ângulo aberto e em parte da Ásia o glaucoma de ângulo fechado.

O diagnóstico de glaucoma deve ser afastado em toda consulta oftalmológica pois os portadores da doença podem não manifestar sintomas.

O glaucoma é uma doença crônica e progressiva. No caso do glaucoma de ângulo fechado, a doença pode se manifestar de forma aguda, dolorosa, com risco de perda de visão rápida e constitui uma emergência médica.

O diagnóstico do glaucoma se baseia nas alterações características na cabeça do nervo ótico e na perda de campo visual. Outros dados do exame oftalmológico obtidos na anamnese, seguidos da medida da acuidade visual, biomicroscopia e gonioscopia, entre outros, são importantes para se firmar o diagnóstico. A medida da pressão ocular é indispensável, mas deve-se sempre ter em mente que, na presença do glaucoma, a pressão intraocular pode estar elevada ou não. A redução da pressão intraocular é a única intervenção que comprovadamente previne a perda de visão. O tratamento do glaucoma visa a redução da pressão ocular e é feito através do uso de colírios, laser ou cirurgia.

Médicos e leigos tendem a armazenar um padrão mental de referência para cada doença (schemata ou profiling), que é utilizado para formação do diagnóstico, frente às queixas dos pacientes e aos achados do exame médico. O padrão armazenado referente ao  glaucoma, que é influenciado pelas ideias apresentadas nas campanhas de prevenção da cegueira por glaucoma,  é utilizado nos processos cognitivos cerebrais para definir  a hipótese de diagnóstico do glaucoma. As campanhas de prevenção da cegueira estimulam o armazenamento de conceitos errados sobre o glaucoma e podem causar prejuízo à saúde pública: a doença deixa de ser identificada em muitos pacientes e podeprogredir em direção à cegueira, por falta de tratamento. Ao mesmo tempo, muitos pacientes que não são portadores de glaucoma são tratados como tal, sem necessidade, com impactos psicológicos sobre o paciente e custos desnecessários para o sistema de saúde.

Não é por acaso que aproximadamente 50% dos portadores de glaucoma permanece sem diagnóstico e sem tratamento e, ao mesmo tempo, aproximadamente 50% dos pacientes que usam medicamentos para tratamento de glaucoma não são portadoras da doença e não precisariam usar a medicação prescrita.

Cegueira no glaucoma

Cegueira no glaucoma

glaucoma é uma das principais causas de cegueira no mundo. Apesar deste fato, o risco de pacientes que recebem o diagnóstico de glaucoma primário de ângulo aberto terminarem a vida cegos é baixo.

Quando ocorre, a cegueira pode  ser total ou parcial e pode atingir apenas um dos olhos. A cegueira total ocorre apenas em uma pequena porcentagem dos pacientes. A  definição de cegueira pode ser acessada em: http://yw.med.br/cegueira-visao-subnormal-deficiencia-visual-deficiente-visual/.

Contrariamente aos mitos prevalentes, a realidade é que:

  • A maioria dos pacientes que recebem o diagnóstico de glaucoma mantém uma boa visão durante toda a vida;
  • O risco de cegueira é maior entre os pacientes nos quais o glaucoma já está avançado quando se diagnostica a doença.
Uma das piores características da cegueira no glaucoma é que, uma vez instalada, é irreversível. O tratamento tem por objetivo paralisar a progressão da doença.

Serão apresentados diversos textos sobre glaucoma:

1) Qual o conceito médico de cegueira;

2) Como o poeta Jorge Luis Borges descreveu sua cegueira;

3) Triagem de pacientes com glaucoma;

4) Quais os fatores de risco para evolução em direção à cegueira, entre os pacientes nos quais o glaucoma é diagnosticado; etc.