Coçar os olhos é prejudicial

Ao longo dos anos de trabalho como oftalmologista, ao atender pacientes nos quais identificamos a existência de ceratocone, solicitamos que mostrassem a forma de coçar os olhos.

Identificamos que, na absoluta maioria dos casos, os pacientes relatam hábito de esfregar ou coçar os olhos apertando ou massageando-os com força.

Solicitamos a alguns pacientes a permissão para fotografá-los enquanto demonstravam a forma de coçar os olhos. A seguir, algumas fotos demonstrando os padrões que identificamos como repetitivos entre os portadores de ceratocone.

O conceito de que coçar os olhos é fator de risco para o aparecimento e progressão do ceratocone é hoje aceito universalmente.

Nossa opinião é que coçar, apertar, esfregar os olhos, constitui o principal fator de risco e é também fator causal relacionado ao aparecimento e progressão do ceratocone.

O ceratocone é uma doença bastante comum. Consideramos que todas as pessoas deveriam ser orientadas a evitar massagear, esfregar ou cocçar os olhos, em todas as circunstâncias. Esta orientação é particularmente importante em crianças e jovens, já que o ceratocone se manifesta geralmente nesta faixa de idade.

Destaque-se que coçar os olhos pode estar relacionado à progressão de alguns casos de miopia e astigmatismo, que podem ser manifestações iniciais do ceratocone. Além disso, esfregar os olhos pode causar flacidez palpebral e é fator de risco para o desenvolvimento da síndrome de frouxidão palpebral (“floppy eyelid syndrome”).

O peixe quatrolhos

O peixe quatrolhos, também chamado Tralhoto, nome científico Anableps anableps, é uma curiosidade da fauna brasileira. É um pequeno peixe, de 20 cm e pode ser encontrado em águas salgadas e doces  no norte e nordeste do Brasil, no delta do Rio Amazonas. Vive em águas calmas e caça insetos e pequenos crustáceos próximo à superfície.

Esses peixes possuem apenas dois olhos, mas cada olho é capaz de enxergar, simultaneamente, acima e abaixo da linha da água, permitindo que o peixe capture seu alimento no ar e na água. Essa particularidade ajuda, também, na proteção contra predadores que se aproximem pelo ar ou pela água.

Os olhos do peixe quatrolhos são divididos em dois sistemas ópticos, com duas aberturas pupilares, duas hemi-retinas e uma córnea dividida por um septo horizontal.

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1)Simmich, J.; Temple, S.E.; Collin, S.P. A fish eye out of water: epthelial surface projections and aquatic corneas of the “four-eyed fish” Anableps anableps. Clinical and Experimental Optometry 2011, 95:140-145 (foto); 2)Schwab, IR; Ho, V.; Roth, A; Blankenship, TN; Fitzgerald, PG Evolutionary attempts at 4 eyes in vertebrates. Tr. Am. Ophth. Soc. 2001, 99: 145158; 3) Arruga, H O olho do quatrolhos. Barcelona, 1941 (Livro)

O pássaro que enxerga com os olhos fechados

O pássaro que enxerga com os olhos fechados: o “olho mágico” do Urutau (Nyctibius griseus — “Grey Potoo”).

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O urutau ou mãe-de-lua é uma ave de hábitos noturnos que vive, principalmente, na região sudoeste do Brasil. Durante o dia permanece com os olhos fechados durante a maior parte do tempo. Esta ave é mais ativa nas primeiras horas da noite; possui olhos grandes, posicionados posteriormente na face.

O urutau apresenta particularidade anatômica em suas pálpebras superiores que consiste em 2 ou 3 pregas, que fazem com que permaneçam duas pequenas aberturas mesmo quando as pálpebras estão totalmente fechadas. Além disso, estas aves podem abrir e fechar as pálpebras de cada olho separadamente.

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A observação de aves em cativeiro, assim como essas particularidades anatômicas, sugerem que estas aves conseguem enxergar quando estão com os olhos fechados (“olho mágico”).

Fendas na pálpebra

Duas pregas na pálpebra

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O urutau utiliza-se da camuflagem durante o dia. repousando em troncos de árvores com cor semelhante à sua plumagem (homocromia). Na foto ao lado e na sequência de fotos apresentadas a seguir, pode-se observar as duas pregas na pálpebra superior da ave, que repousa durante o dia em um tronco de árvore (Fotos tiradas por Cristiane Abreu e cedidas por GB Borinski; Tartarugalzinho – Amapá).

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Borrero H; J.I. Notes on the structure of the upper eyelid of potoos (Nyctibius) The condor 1974; 76:210-211

Cestari, C; Guaraldo, A.C.; Gussoni, C.O.A. Nestling behavior and parental care of the common Potoo (Nyctibius griseus) in Southeastern Brazil The Wilson Journal of Ornithology 2011; 123(1): 102-106

As bruxas e o olho

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As “bruxas” e o olho.

Muitos brasileiros já ouviram, quando crianças, a informação de que o pó das asas de algumas borboletas, mariposas ou “bruxas” pode cegar. Trata-se de uma crendice popular.

As borboletas são insetos com dois pares de asas, encontrados na natureza em diversos tamanhos e cores. Algumas borboletas têm cor acinzentada ou escura e podem ter uma aparência menos agradável do que as borboletas coloridas.

A beleza das borboletas coloridas desperta sensações agradáveis, ligadas à primavera, felicidade e alegria.

As borboletas de cor escura, particularmente as grandes, podem despertar repulsa ou medo. Existem superstições ligadas a estas borboletas, que às vezes são chamadas de “bruxas”.

No Brasil é bem difundida a crença de que o pó da asa destas borboletas pode prejudicar os olhos e mesmo causar cegueira. 

Asas de borboletas ou mariposas são revestidas por um “pó” que contém micro escamas e pode irritar os olhos. Não existe fundamento científico para a crença popular de que pegar borboletas ou bruxas e passar a mão nos olhos pode causar cegueira.

Em 1985 publicamos o artigo “Crendices populares relativas ao olho: as borboletas e o olho” (Waisberg, Yehuda; Machado, Ângelo Barbosa Monteiro; Oliveira, André Aguiar – Revista Brasileira de Oftalmologia; 44(3): 73-81, 1985), no qual estudamos este assunto.

O olho migratório do Linguado

Peixes da família do linguado (flat Teleosteans; Flat-fish) são muito apreciados na culinária. Em inglês, utiliza-se palavras diferentes para peixes desta família utilizados na alimentação: halibut – alabote; plaice – solha; turbot – rodovalho; sole fish- linguado.

Esses peixes possuem o corpo oval e achatado, medem de 30 a 50 cm de comprimento e pesam de 2 a 3 Kg. Apresentam mimetismo, se defendem através de manchas em seu corpo que imitam os locais onde vivem.

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Estes peixes apresentam um fenômeno curioso e único na natureza. Ao nascer,  apresentam a forma usual do corpo da maioria dos peixes,  “em torpedo”, com um olho de cada lado da cabeça. À medida que se tornam adultos,  passam a viver no fundo do mar e ficam deitados sobre um dos lados, de tal forma que um dos olhos permaneceria direcionado para baixo.

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Conforme crescem, tornam-se achatados e um dos olhos migra, de forma dextrógira ou levógira, similar às pessoas canhotas e destras. Nos levógiros, como o Linguado, ocorre migração do olho para o lado esquerdo da cabeça e nos dextrógiros, como o Rodovalho,  ocorre migração para o lado direito da cabeça. Eventualmente, os olhos ficam posicionados ao lado um do outro. Os dois olhos, como o resto da cabeça, ficam assimétricos.

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Unknown-7Completada a migração esses peixes adquirem uma ampla visão binocular para cima, enquanto permanecem deitados no fundo do oceano. Muitas vezes o corpo permanece oculto na areia e apenas os olhos permanecem exteriorizados.

Referências
– Duke-Elder, S. The Eye in evolution. System of Ophthalmology – Vol.I; Henruy Kimpton, London; 1958; pag. 328-329
– Friedman, M. The evolutionary origin of flatfish asymetry. Nature07109; Vol. 454/10 July 2008|doi:10.1038
– http://pt.wikipedia.org/wiki/Linguado

Enxaqueca

Enxaqueca é uma doença que se manifesta em episódios isolados, mais ou menos frequentes, e que se acompanha frequentemente de distúrbios visuais ilusórios temporários, seguidos de dores de cabeça (cefaleia). Em 3/4 dos portadores, a doença se manifesta antes dos 20 anos de idade. O diagnóstico se baseia, principalmente, no relato dos sintomas pelo paciente.

Uma das características mais dramáticas da enxaqueca são as alterações visuais, que ocorrem em aproximadamente 1/3 dos portadores da doença. Os distúrbios visuais variam entre os pacientes e mesmo entre os episódios de enxaqueca de cada paciente. Os sintomas visuais podem ocorrer isoladamente, sem dores de cabeça, mas geralmente precedem a dor de cabeça e podem ser seguidos de aumento da sensibilidade à luz, náusea e vômitos. Os sintomas sensoriais que indicam o início do episódio de enxaqueca recebem o nome de aura. Tipicamente, os pacientes observam figuras estreladas de luzes coloridas em um dos lados do campo visual, que gradualmente se expandem e se abrem, mantendo a aparência luminosa em zig-zag. O paciente não é capaz de enxergar na área do distúrbio visual, que recebe o nome de escotoma cintilante. Este sintoma aparece e evolui ao longo de alguns minutos e gradualmente desaparece ao longo de 10 a 20 minutos.

Muitas pessoas ficam assustadas quando apresentam as alterações visuais associadas à enxaqueca e buscam consulta oftalmológica com urgência. Na maioria das vezes, quando o paciente é atendido, as alterações visuais já desapareceram e o exame oftalmológico não evidencia nenhuma alteração. Os sintomas da enxaqueca  estão relacionados às alterações passageiras na excitação do córtex cerebral, de causa mal conhecida.

Os primeiros desenhos da aura visual foram publicados pelo astrônomo britânico Hubert Airy, em 1857, que descreveu e desenhou suas experiências visuais durante seus episódios de enxaqueca e despertou o interesse da comunidade científica. Descrições bastante precisas já estavam presentes em textos da escola hipocrática: “Phoenix’s problem: he seemed to see flashes like lightning in his eyes, mostly the right. And when he had suffered that a short time, a terrible pain developed toward his right temple ….”.

Referência
Eadie, MJ Hubert Airy, comtemporary men of science and the migraine aura. J R Coll Physicians Edinb 2009; 39:263-7

Lentes antirreflexo – vantagens e desvantagens

As superfícies anterior e posterior das lentes dos óculos, quando não submetidas a um tratamento especial, refletem luz e imagens de objetos que se encontram à frente do indivíduo. Estes reflexos podem dificultar a visualização dos olhos de quem está usando os óculos, reduzem a transmissão da luz através da lente e podem provocar discretas imagens-fantasmas, particularmente em míopes.

A tecnologia para tratamento antirreflexo ficou disponível na década de 1970. Consiste no revestimento das lentes por finas camadas antirreflexo, que reduz os reflexos das superfície anterior e posterior das lentes. Existem diversas tecnologias patenteadas, diferentes nomes comerciais e diferentes níveis de  qualidade. Recentemente foram introduzidas lentes de óculos com filtro azul, que anunciam vantagens  não comprovadas.

aplicação das camadas antirreflexo

A aplicação de película antirreflexo reduz a refletividade da superfície da lente e aumenta a transmissão da luz.

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Vantagens das lentes antirreflexo: a principal vantagem é a estética dos óculos, com  boa visualização dos olhos por trás das lentes. Muitos pacientes preferem as lentes antirreflexo, quando comparadas às lentes que não possuem esse tratamento. Esta preferência pode estar relacionada à melhora na visão de contraste e maior transmissão de luz através da lente, apesar de que esses benefícios parecem ser pequenos.

lentes antirreflexo2Desvantagens das lentes antirreflexo: 1) Preço elevado;  2) menor durabilidade das lentes, pois a película antirreflexo pode se estragar sob ação de algumas substâncias químicas,  calor ou pela ao limpar as lentes; 3) sujam com maior facilidade, pois possuem tendência à aderência de oleosidade dos dedos e poeira; 4) quando sujas podem dar a impressão de falta de cuidado de quem usa os óculos (esta desvantagem é menor com tratamentos antirreflexos mais caros); 5) estudos comparativos indicam que aprox. 30% dos pacientes não relatam preferência por essas lentes.

Contraindicações  às lentes antirreflexo: 1) óculos de crianças, adultos ou idosos que possivelmente não irão cuidar adequadamente das lentes; 2) óculos para leitura, quando existir previsão de que o paciente não irá tomar os cuidados necessários com as lentes; 3) quando o paciente busca lentes com maior durabilidade ou menor preço.

A importância dos olhos na linguagem

A importância dos olhos está presente nas palavras do nosso cotidiano.

A seguir uma lista de expressões e provérbios que evidenciam a importância da visão e a crença popular de poderes mágicos ou especiais relacionados aos olhos.

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Em terra de cego quem tem um olho é rei

O que os olhos não veem o coração não sente

Olho por olho, dente por dente

Os olhos são o espelho da alma

Pimenta nos olhos dos outros é refresco

Ter o olho maior do que a barriga /
Olhos maiores do que o estômago

Um olho no peixe e o outro no gato

A beleza está nos olhos de quem vê

Dormir com um olho aberto e outro fechado

Cego em meio a tiroteio

Cego em briga de foice

Ficar a ver navios

 

Custar os olhos da cara

Pagamento “à vista”

Pagamento “a perder de vista”

Em um piscar de olhos

De encher os olhos

Fechar os olhos para

Fazer vista grossa

Não pregar o olho

Olho da Rua

Olho da fechadura

Olho do Furacão

Olho de águia

Olho de lince

Olho de vidro

Olho da sogra

Olho mágico

 

Ponto de vista

Golpe de vista

Saltar aos olhos

Abrir os olhos de alguém

Ficar de olho vivo

Olheiro

Olho clínico

Olhar de peixe morto

Rabo de olho
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Olho de matar pinto

Mau olhado

Olho gordo

Lançar poeira nos olhos

Ver com bons olhos

Ver com maus olhos

Olhar torto

Olhar de soslaio

 

Amor à primeira vista

À primeira vista

São seus olhos

Pelos seus lindos olhos

A menina dos meus olhos

Só ter olhos para

Andar de olho em

Olho comprido para

Olhos nos olhos

 

Evidente

Sem sombra de dúvida

Claramente / É claro /
Minhas ideias clarearam

Testemunha ocular

Acreditar nos próprios olhos

Ter algo a ver / Logo se vê / Está se vendo

Veja o que diz

Olhe aqui

Vidente

Visionário

Olhar para o dia de amanhã

Visões do mundo/ Visão da vida / Visão do problema

Revisão

Pessoa iluminada

brilhante/ mente brilhante / pessoa brilhante

Mandar ver

A olhos vistos

A olho nu

Ao alcance dos olhos

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