Apresenta-se os principais sintomas e bases do tratamento da ceratoconjuntivite epidêmica e principais motivos para buscar segunda opinião em conjuntivite.
A ceratoconjuntivite epidêmica é causada por tipos de vírus altamente contagiosos e epidemias de conjuntivite ocorrem em alguns anos. Diversos surtos epidêmicos já ocorreram no Brasil. Em 2011, por exemplo, ocorreu surto de conjuntivite em São Paulo e mais de 120.000 pessoas manifestaram a doença. Conjuntivites causadas por diferentes agentes como bactérias, substâncias químicas, irritação mecânica, alergias, etc., não causam epidemias por não serem transmitidas facilmente de uma pessoa para outra.
A ceratoconjuntivite epidêmica pode ser causada por diferentes tipos de adenovirus, sendo mais comuns os adenovirus tipo 8, 19 e 37. Geralmente os sintomas preponderantes estão localizados nos olhos, sendo pouco comuns maniffestações sistêmicas.
O período de incubação ou seja o intervalo de tempo entre o contato e a manifestação da conjuntivite varia de 4 a 10 dias. Estes surtos ocorrem mais frequentemente em meses quentes.
Esta conjuntivite se manifesta de maneira aguda, com lacrimejamento, olho vermelho e desconforto. Nos dias seguintes pode ocorrer edema das pálpebras, hemorragias conjuntivais e, nos casos mais graves, pseudomembranas na conjuntiva tarsal superior. Nestes casos, pode ocorrer desepitelização da córnea, com grande desconforto, dor e fotofobia.
Em 40% dos casos os sintomas ocorrem predominantemente em um dos olhos e em 60% dos casos as manifestações ocorrem nos dois olhos. Nos casos bilaterais, um dos olhos pode manifestar os sintomas alguns dias antes do outro e os sintomas podem ser mais intensos em um dos olhos. É usual o aumento de gânglios linfáticos pré-auriculares, levemente dolorosos ao toque.
O diagnóstico da ceratoconjuntivite epidêmica geralmente se baseia na história clínica e nas características da doença. Entretanto, existem exames laboratoriais que permitem o diagnóstico e inclusive a caracterização do sorotipo viral envolvido. Uma vez que a doença se manifesta de forma bastante característica e é auto-limitada, raramente o médico solicita exames complementares laboratoriais.
O tratamento é fundamentalmente sintomático e na maioria dos casos ocorre melhora ao longo de 2 semanas. Nos casos mais severos, a recuperação pode demorar 3 a 4 semanas. A doença é autolimitada e muitos pacientes não chegam a consultar oftalmologista e recuperam-se naturalmente. Não existe medicamento aprovado que seja específico para o tratamento da doença.
Em alguns pacientes, particularmente naqueles nos quais a conjuntivite se manifesta de forma mais severa, após a melhora da conjuntivite pode se manifestar uma ceratite (cerato-conjuntivite). Nesta fase já não existe risco de contágio. A ceratite pode ser leve, moderada ou severa. Aparecem pequenos infiltrados no estroma da córnea, que podem embaçar a visão, causar fotofobia e sensação de areia nos olhos. Nestes casos, o olho já não se encontra vermelho, apesar dos sintomas. A melhora destes sintomas é lenta e pode demorar vários meses. Pode ocorrer infecção bacteriana secundária. O tratamento receitado pelo oftalmologista pode diminuir os sintomas e trazer conforto ao paciente. Geralmente se prescreve, por alguns dias, colírios com antibióticos, corticosteróide ou outro anti-inflamatório e lubrificantes, por alguns dias .
Devem ser tomadas precauções para evitar a transmissão em casos de suspeita de ceratoconjuntivite virótica epidêmica. Lavar as mãos frequentemente é uma das medidas mais importantes, assim como a limpeza de superfícies. Existem relatos de transmissão de conjuntivite a partir de clínicas ou consultórios de oftalmologia. Para prevenir esta forma de contágio, os instrumentos oftalmológicos devem ser higienizados após atendimentos de casos suspeitos. Clínicas de pronto-atendimento de urgência oftalmológica, com grande volume de atendimento, podem atuar na disseminação da doença. Existem relatos de surtos epidêmicos em piscinas, hospitais, quartéis, colégios e outras comunidades.
Segunda opinião em conjuntivite
A busca de segunda opinião em conjuntivite é comum. Os motivos principais são: 1) dúvidas não esclarecidas com relação à doença; 2) desconforto intenso apesar do tratamento prescrito por outro oftalmologista; 3) demora na solução dos problemas; 4) piora da visão.
Em nosso consultório somos procurados com certa frequência por pacientes que começaram o tratamento com outros oftalmologistas. Temos observado prescrições estranhas àquelas usualmente recomendadas nos textos médicos e também em nossa experiência pessoal. Alguns oftalmologistas recomendam “lavar os olhos com um jato de soro fisiológico gelado, algumas vezes por dia” — em nossa experiência este tratamento piora os sintomas; outro tratamento frequentemente prescrito é o uso excessivo de colírios com antibióticos, corticosteróides, lubrificantes, muitas vezes por dia — em nossa experiência, o uso excessivo de colírios pode causar toxicidade na cornea e conjuntiva e retardar a melhora dos sintomas.