Risco do uso excessivo de lágrimas artificiais

Pouco se fala sobre o risco do uso excessivo de lágrimas artificiais. Os colírios lubrificantes podem ser comprados livremente, pois não há exigência de prescrição médica. Existem dezenas de colírios disponíveis nas prateleiras das farmácias. Oftalmologistas também prescrevem, com frequência, lágrimas artificiais para desconforto ocular, olho seco e mesmo na ausência de sintomas.

A lágrima natural do nosso olho é composta por três camadas: uma camada de mucina junto à córnea, uma camada aquosa e por fim uma fina camada oleosa. A camada de mucina funciona como uma esponja para reter a camada aquosa que contém proteinas que protegem o olho contra infecções: enzimas bactericidas e imunoglobulinas. A película oleosa evita a evaporação da lágrima e favorece a retenção do filme lacrimal, necessário para uma boa qualidade de visão e conforto ocular.

Os colírios lubrificantes atuam basicamente no componente aquoso. Entretanto, mais de 60% dos casos de olho seco decorrem de problemas na película oleosa, produzida por glândulas das pálpebras e liberada durante o piscamento.

Conheça alguns riscos do uso excessivo de lágrimas artificiais: 1) prejudica a película oleosa que evita a evaporação da lágrima; 2)retira componentes que protegem o olho contra infecções; 3) desenvolve “dependência” ao uso do lubrificante, que leva ao uso frequente do colírio; 4) pode mascarar outro problema ocular não diagnosticado; 5) o colírio lubrificante ao secar, adere e cria depósitos nos cílios; 6) turvação momentânea da visão ao usar o colírio; 7) Há relato de complicações graves relacionadas ao uso de lubrificantes, inclusive mortes e casos de perda da visão.

Veja também: o mistério dos colírios contaminados – – olho seco – – risco do uso excessivo de lágrimas artificiais

Colírio lubrificante é produto fronteira

Colírio lubrificante é produto fronteira segundo as normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. ANVISA considera que lágrimas artificiais e lubrificantes oculares são regularizados na categoria de produtos para saúde que não exigem prescrição médica, chamados produtos fronteira, e não estão na categoria de medicamentos.

Segundo a ANVISA estão incluídos nessa categoria as lágrimas artificiais, colírios indicados para olho seco e hidratação da superfície ocular, associados ou não ao uso de lentes de contato.

São também considerados produtos fronteira hidratantes corporais, cosméticos, perfumes e produtos de higiene corporal ou bucal. Além de não haver exigência de prescrição médica para venda de produtos fronteira, as exigências da ANVISA para autorização de novos produtos são menos rigorosas do que as exigências para liberação de medicamentos.

A exposição desses produtos nas farmácias encontra-se nas prateleiras externas e não atrás do balcão (em inglês, “over the counter”). Podem ser livremente escolhidos e comprados pelos clientes.

A mesmas regras adotadas pela ANVISA para as lágrimas artificiais são adotadas também pelo órgão de fiscalização FDA – Food and Drug Administration, nos Estados Unidos.

Olho seco

A primeira definição de olho seco foi publicada em 1995, em consenso sobre estudos clínicos patrocinados pela indústria: Olho seco é um distúrbio do filme lacrimal causada por deficiência lacrimal ou evaporação excessiva e está associada a desconforto ocular.

Em 2007, essa definição foi alterada para: Olho seco é uma doença multifatorial das lágrimas e da superfície ocular que resulta em sintomas e desconforto. (DEWS II – Dry eye workshop).

Em 2017, a definição foi alterada para: Olho seco é uma doença multifatorial da superfície ocular caracterizada pela perda da homeostasia do filme ocular, acompanhada por sintomas…”.

Anteriormente a 1995, o nome genérico “olho seco” não era usado para justificar algum desconforto relacionado a uma noite mal-dormida, excesso de trabalho, ar condicionado no carro ou no trabalho, clima seco, vento, etc. O paciente apresentava suas queixas e o oftalmologista investigava a presença de deficiência de produção de lágrima, higiene inadequada nas margens das pálpebras, presença de doenças sistêmicas ou oculares e apresentava orientação individualizada, sem classificar o paciente como portador da doença “olho seco”.

Em decorrência do marketing relacionado à nova “doença olho seco“, esse diagnóstico atualmente atinge até 50% dos pacientes segundo TFOS DEWS Epidemiology Report; 2017.

Em uma série de textos mostraremos que OLHO SECO é um dos melhores exemplos de medicalização da saúde, prescrição excessiva de colírios desnecessários, influência da indústria no receituário médico, riscos para a saúde pública e gastos desnecessários (“da boca do representante do laboratório para o receituário médico”).

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