Síndrome de Irlen

Síndrome de Irlen

Há aproximadamente 30 anos, uma terapêutica H. Irlen, propôs a existência de um problema de processamento cerebral em crianças, denominado primeiramente como síndrome de sensibilidade escotópica (SSS) e posteriormente simplesmente Síndrome de Irlen ou Síndrome de Meares-Irlen. Este problema não estaria relacionado a problemas de visão, mas há habilidade do cérebro em processar as informações visuais.

Segundo  Irlen, os problemas de aprendizagem relacionados à síndrome de Irlen,  poderiam ser melhorados através do uso de óculos com lentes com filtros coloridos. O treinamento para uso destes óculos passou a ser chamado de método de Irlen e  passou a ser adotado em algumas clínicas credenciadas em diversos países do mundo. Trata-se de óculos e treinamento de custo elevado.

O quadro mal definido  para a chamada síndrome de Irlen corresponde a dificuldades de problemas de aprendizado  que se sobrepõe às características de crianças portadoras de dislexia. O diagnóstico tem sido aplicado a um grupo heterogêneo de pacientes que se enquadram no espectro de dislexia, autismo ou distúrbios de atenção e hiper-atividade. Apesar de transcorridos mais de 30 anos não se encontra na literatura científica, trabalhos com boa qualidade metodológica que comprovem a existência desta síndrome ou a eficácia do uso dos óculos com filtros coloridos.

Segundo alguns aurores o método proposto por Irlen mais se parece a um texto de auto-ajuda e o tratamento foi divulgado e oferecido aos pacientes antes da existência de pesquisas que comprovassem o seu valor e possuem a características de modismos divulgados por pessoa com características carismáticas. A crença da eficácia do método se basearia em erros metodológicos que levariam a ilusões cognitivas, semelhantes a ilusões de ótica.

A prescrição de óculos com lentes coloridas (método de Irlen) não é aceita e adotada pela maioria dos oftalmologistas, não se baseia em dados ou diagnósticos do exame oftalmológico e não está respaldada pelo Conselho Federal de Medicina, assim como por diversas sociedades americanas ligadas à saúde ocular ( ver referências 1 e 2 abaixo).

Referências

1) Learning disabilities, Dyslexia, and Vision (Joint Technical Report – Council on Children with Disabilities, American Academy of Ophthalmology American Association for Pediatric Ophthalmology and Strabismus, and American Association of Certified Orthoptists) Pediatrics 2011; 127;e818 – http://pediatrics.aappublications.org/content/127/3/e818.full.html

2) Parecer CFM nº 21/14 : Síndrome de Irlen – Falta de evidências científicas que justifiquem a prescrição de lentes e óculos(Conselho Federal de Medicina, 2014) – http://www.portalmedico.org.br/pareceres/CFM/2014/21_2014.pdf

3) Bowd, AD; O’Sulliva, J Seeing the world through rose-colored glasses … can be effectively treated using colored lenses and overlays. The scientific evidence suggests otherwise. Skeptical Inquirer. 28.4 (july-August) 2004; p.47

4) Henderson, LM Treating reading difficulties with color (Editorial) BMJ 2014; 349;g5160

5) Lilienfeld SO; Ammirati, R; David, M  Distinguishing science from pseudoscience in school psychology : Science and scientific thinking as safeguards against human error.  Journal of School Psychology 2012; 50: 7-36

6) Lofthouse, N; Hendren, R; Hurt, E; Arnold, LE; Butter, E  A review of complementary and alternative treatments for autism spectrum disorders (review article) Autism Research and treatment. Vol. 2012, article ID 870391, 21 pág.

7) Loew, SJ; Watson, K  The prevalence of symptoms of scotopic sensitivity/meares-Irlen syndrome in subjects diagnosed with ADHD: does misdiagnosis play a significant role? Hrv Revija Rehab Istraziv 49(2) 2013: p. 64

8) Ritchie, SJ; Sala, SD; McIntosh, RD Irlen colored overlays do not alleviate reading diffiuclties. Pediatrics 2011; 128; e932

9) Simmers AJ; Bex PJ; Smith FK; Wilkins AJ Spatiotemporal visual function in tinted lens wearers. Invest Ophthalmol Vis Sci; 42 (3): 879-84, 2001

10) Solan, HA; Richman, J  Irlen lenses: a critical appraisal.  J. Am. Optom Assoc; 61 (10): 789-96, 1990

11) Vidal-López, J The role of attributional bias and visual stress on the improvement of reading speed using colored filters. Perceptual and Motor Skills, 2011, 112 (3): 770-782

Tratamentos alternativos para autismo e dislexia

Tratamentos alternativos para autismo, dislexia e distúrbios de atenção. Tratamentos ligados à visão.

O espectro de distúrbios relacionados ao autismo, a dislexia e distúrbios de atenção/hiperatividade, apresentam quadros clínicos diversos  em suas manifestações e os pacientes apresentam diferenças na intensidade e conjunto dos sintomas. Este grupo de distúrbios são bastante frequentes e apresentam algumas características comuns ligadas ao comportamento dos pacientes acometidos por essas diferentes entidades estão: distúrbios de atenção, impulsividade/hiperatividade, problemas ligados ao sono, comportamentos repetitivos, ansiedade, agitação e agressão.

Existem poucas opções de tratamento medicamentoso com eficácia comprovada e  aprovados por órgãos reguladores, como o FDA americano.

A abordagem terapêutica mais eficaz para portadores de autismo, dislexia e distúrbios der atenção ou hiperatividade envolve programas de apoio educacional treinamento ligado à fala e à comunicação, suporte nas habilidades sociais e intervenção comportamental. Além disso terapia ocupacional e física oferece progressos frente a déficit sensorial ou de coordenação motora. Estes cuidados comportamentais conduzem a progressos comprovados na linguagem, convívio social, habilidades acadêmicas e também em outros problemas de comportamento. Estes tratamentos são os métodos mais eficazesEntretanto, envolvem uma atenção prolongada, multidisciplinar e cara, além de um envolvimento da família.

Existe um grupo de intervenções que consistem em práticas médicas ou cuidados ligados à saúde oferecidos por profissionais não médicos, que podem incluir a recomendação de usar alimentos ou medicamentos administrados por via oral ou aplicados externamente, além de outras práticas ou terapias, que não podem ser consideradas parte da medicina convencional. Este grupo de recomendações recebe o nome de tratamento alternativo ou complementar. Estes tratamentos alternativos não possuem eficácia comprovada, com base em trabalhos científicos e revisões sistemáticas de trabalhos publicados aceitas pela comunidade científica.

Uma extensa relação de tratamentos alternativos que apresentam insuficiência de evidências quanto à sua eficácia pode ser encontrada no artigo de revisão citado abaixo.

O exame oftalmológico é importante em crianças portadoras de distúrbios relacionados ao autismo ou dislexia. No que se refere a tratamentos que direta ou indiretamente envolvem a visão, não existem evidências quanto à eficácia dos seguintes tratamentos:

1) método de Irlen e lentes de Irlen

2) terapia de integração sensorial

3) terapia visual

A decisão de tentar um tratamento alternativo de eficácia não comprovada é uma decisão pessoal dos responsáveis por portadores de problemas com características do autismo, dislexia ou distúrbios de atenção. Uma vez que existem diversas modalidades de tratamentos alternativos voltados para diferentes atividades, é possível que em casos individuais se obtenha resultados positivos. Entre as variáveis a serem consideradas ao adotar um tratamento alternativo sem eficácia comprovada, está o desvio de recursos financeiros, tempo e esforço, com possível prejuízo da adoção de técnicas de abordagem com eficácia comprovada.

Referências:

Lofthouse, N; Hendren, R; Hurt, E; Arnold, LE; Butter, E  A review of complementary and alternative treatments for autism spectrum disorders (review article) Autism Research and treatment. Vol. 2012, article ID 870391, 21 pág.

Dislexia e Visão

Problemas de aprendizagem, déficit de atenção ou dislexia são bastante frequentes. Dependendo da definição adotada, entre 5 a 20% das crianças nos Estados Unidos apresentam dificuldades no aprendizado da leitura.

Dislexia é definida como um distúrbio primário da leitura e a apalavra dislexia deriva do grego e significa “dificuldade e ler palavras”. Consequências secundárias a dislexia incluem uma redução na experiência de leitura, com limitação no crescimento do vocabulário, na expressão pela escrita e na aquisição de conhecimento em geral. Algumas crianças focam envergonhadas das dificuldades que apresentam, com relação aos seus colegas e podem desenvolver perda de motivação na escola, baixa auto-estima e outros problemas emocionais e psicológicos relacionados.

A dislexia apresenta origem neurobiológica  e está relacionada a problemas localizados fisicamente no cérebro. Existem fortes evidências científicas que indicam uma base biológica ligada aos mecanismos de codificação da linguagem no cérebro. A dislexia é m distúrbio que afeta pessoas de todas as idades e pode apresentar tendência hereditária e familiar. Os pais e educadores podem detectar os primeiros sinais das dificuldades relacionadas à dislexia na idade pré-escolar e nestes casos devem adotar as providências e a atenção necessárias. Alguns casos, entretanto, são identificados apenas em crianças maiores ou mesmo na idade adulta. Em todas as idades, trata-se de um diagnóstico clínico. Existem testes para avaliação formal que permitem identificar o distúrbio de aprendizagem.

O oftalmologista é um dos primeiros profissionais consultados pelos pais da criança portadora de dislexia, pois existe uma tendência a atribuir as dificuldades de aprendizado a algum problema na visão.

Crianças e adultos com dislexia apresentam função visual semelhantes às pessoas não portadoras de dislexia. Não há correlação entre a performance na leitura e qualquer tipo de erro refracional, como miopia, hipermetropia, astigmatismo ou a necessidade do uso de óculos em geral. Da mesma forma, a dislexia não resulta de déficit oculomotor, como estrabismo ou deficiência de convergência. Não existe prova da existência de diferenças na habilidade acomodativa entre crianças que apresentam dificuldade na leitura em comparação com aquelas que não apresentam estas dificuldades.  Não existem evidencias científicas que indiquem relação causal entre dislexia e visão.

Não cabe ao oftalmologista diagnosticar distúrbios de aprendizagem na leitura ou outros problemas relacionados ao aprendizado.

O oftalmologista deve realizar exame oftalmológico completo, incluindo exame refracional sob cicloplegia. A orientação ou tratamento recomendado pelo oftalmologsta deve contemplar os problemas eventualmente identificados, de maneira semelhante ao que seria adotado em qualquer criança. A prescrição de óculos para miopia, hipermetropia e astigmatismo devem atender as necessidades visuais e sintomas.

Os pais devem,  ainda, ser orientados com relação ao fato de que tratamentos alternativos ou mitos que não apresentam eficácia confirmada, podem desviar a atenção e o esforço para adoção de medidas adequadas para o tratamento do problema de aprendizado. As evidências científicas não comprovam os benefícios dos seguintes tratamentos ligados à oftalmologia: treinamento visual, exercícios musculares oculares, exercícios de acompanhar objetos ou imagens com os olhos, terapia comportamental visual, óculos de treinamento, prismas, filtros ou lentes coloridas (lentes de Irlen).

Referências:

1) Learning disabilities, Dyslexia, and Vision (Joint Technical Report – Council on Children with Disabilities, American Academy of Ophthalmology American Association for Pediatric Ophthalmology and Strabismus, and American Association of Certified Orthoptists) Pediatrics 2011; 127;e818 – http://pediatrics.aappublications.org/content/127/3/e818.full.html

2) Parecer CFM nº 21/14 : Síndrome de Irlen – Falta de evidências científicas que justifiquem a prescrição de lentes e óculos(Conselho Federal de Medicina, 2014) – http://www.portalmedico.org.br/pareceres/CFM/2014/21_2014.pdf