Espirro ao olhar para o sol

Espirro ao olhar para o sol ou sob efeito do brilho de uma luz intensa é um fenômeno que ocorre em uma a cada três pessoas. Esse reflexo apresenta característica hereditária e seu mecanismo não é bem conhecido. Muitas crianças e adultos, quando sentem vontade de espirrar, olham rapidamente para o sol para desencadear o espirro.

O espirro ao olhar para o sol não está relacionado a outras condições médica e já foi relatado há mais de 2.000 anos. Esse reflexo já causou preocupação militar relacionada ao risco de ocorrer em pilotos de aviões de guerra, durante o voo.

O fenômeno é conhecido como reflexo do espirro fótico (Em inglês: Photic sneeze reflex ou Hélio-ophthalmic outburst syndrome).

Existem poucos trabalhos sobre esse assunto, entretanto, olhar para o sol para espirrar pode provocar lesão solar na retina.

Estudos sobre retinopatia solar ou lesão na retina provocada por olhar diretamente para o sol, sem proteção, incluem alguns casos de lesão relacionadas ao reflexo do espirro fótico. A lesão característica é uma perda localizada de fotorreceptores da retina na região macular. Geralmente não há prejuízo da visão, mas as consequências tardias, a história natural da lesão e a própria incidência dessa lesão ainda não estão bem estudadas.

Os pais de crianças que olham para o sol para desencadear o espirro devem orientar seus filhos sobre os riscos de se olhar diretamente para o sol. Adultos que que apresentam esse reflexo, também devem estar atentos aos riscos, pouco estudados, do ato de olhar para o sol para desencadear o espirro. 

Referências

1) Scherbakova, I; Casper, DS; Bearelly, S; Odel, JG Acute Solar Retinopathy and the Autossomal Dominat Compelling Helio-Ophthalmic Outburst Syndrome. J. Neuro-Ophthalmol 2020; 40:243-245 /  2) Abdellah, MM; Mostafa, EM; Anber, MA; Saman, IS; Eldawla, ME Solar maculopathy: prognosis over one year follow up. BMC Ophthalmology, 19: 201 (2019) doi: 10.1186/s12886-019-1199-6 / 3) Schrock, K Looking at the sun can trigger a sneeze. Scientific America, 2008 / 4) Breitenbach, RA; Swisher, PK; Kim, MK; Patel, BS The photic sneeze reflex as a risk factor to combat pilots Military Medicine 2993; 158:806-809 / 5) Bruè, C.; Mariotti, C.; Franco, E; Fisher, Y; Guidotti, JM; Giovannini, A. Solar Retinopathy: A Multimodal Analysis Hindawi P.C. 1993; doi: 10.1155/2013/906920

Acuidade visual estenopeica e óculos estenopeicos

Teste da acuidade visual com buraco estenopeico

É um teste realizado em consultório oftalmológico, quando um paciente apresenta uma redução da visão e o médico deseja fazer a distinção entre uma baixa de visão relacionada a um erro refracional, que pode ser corrigido entes de óculos ou lentes de contato, de alguma outra doença.

Utiliza-se um cartão ou oclusor com pequeno orifício de 0, 5 a 2 mm. O teste é realizado em cada olho separadamente. O paciente procura ler letras à distância através do orifício, sem que esteja usando óculos ou lentes de contato, enquanto o outro olho permanece ocluído. Se a visão através do buraco estenopeico melhora, isto indica que a visão pode ser melhorada com óculos ou lentes de contato, caso contrário provavelmente a baixa de visão não pode ser corrigida desta maneira.

Este teste frequentemente é utilizado por crianças, em suas brincadeiras.

Óculos Estenopeicos

São óculos com lentes negras, nas quais existem diversos buracos de 0,5 a 2 mm ou uma fenda estreita, que permitem melhorar a visão de longe e de perto, em substituição às lentes de óculos ou lentes de contato. A melhora da visão decorre da redução da difração da luz e aumento da profundidade de foco, quando se enxerga através de uma pequena abertura.

A ideia do uso de lentes estenopeicas ou óculos com lentes estenopeicas para auxiliar pacientes com astigmatismo irregular como ceratocone, teve seus princípios óticos explicados por Valdés em 1623. Foi empregada clinicamente pelo oftalmologista francês Serre em 1857 e Fras Dinders em 1864.

A grande desvantagem do orifício estenopeico é a redução da quantidade de luz que entra no olho. A redução da luminosidade e a redução do campo de visão são incômodos que comprometem o seu uso constante. Duke-Elder, em seu tratado de oftalmologia (1970),  considera o uso de lentes estenopeicas para melhorar a visão de longe e de perto como um método obsoleto, de uso restrito.

Recentemente, a utilização das propriedades óticas do braço estenopeico ressurgiu na oftalmologia como uma das abordagens cirúrgicas para presbiopia e astigmatismo irregular (implante corneano estenopeico Kamra para presbiopia, implante de lente intraocular estenopeica  e implante de lente intraocular estenopeica para ceratocone).

Charlatanismo e visão

O termo charlatanismo é usado para descrever práticas de exploração da credulidade pública, geralmente anunciando tratamentos ou curas por meio secreto, esotérico ou infalível. No passado, o charlatão apresentava-se em praças ou feiras para vender drogas ou elixires reputados milagrosos, seduzindo o público e iludindo-o com discursos (em inglês, utiliza-se a palavra quackery, que isignifica fala do pato). O termo charlatão é usado também  para se referir a pessoas que, por seus conhecimentos empíricos, faz-se passar por médico e pratica a arte de curar sem estar legalmente autorizado (Houaiss).

luz azul e cultivo de vegetais

Entre os exemplos de charlatanismo relacionado à visão, está o uso da cor azul através de vidros e filtros azuis para promover  saúde.

 

Terapia das Cores

Este tratamento foi proposto  pelo General do exército americano James Peasonton (1808-1894) que publicou  em 1876 o livro “A influência dos raios azuis da luz solar e da cor azul do céu no desenvolvimento da vida animal e vegetal“. Segundo Pleasonton, a luz azul seria benéfica para a saúde do ser humano, animais e plantas, sendo capaz de fortalecer a constituição de pessoas,  aumentar a longevidade e tornar os deficientes físicos mais saudáveis. Além disso, acreditava que a luz azul aumentava a produção de uvas. Propôs galpões de cultivo com paredes e tetos com vidros azuis. Em 1877, a revista Scientific American publicou uma série de três textos sob o título “The Blue Glass Deception“, nos quais demonstrou a ausência de fundamento científico da teoria e e a ineficácia do tratamento proposto por Pleasonton.

Edwin D. Babbitt (1828-1905) publicou em 1878 o livro “Os princípios da luz e da cor: O poder de cura através da cor“. Diversos adeptos do poder de cura através de luzes ou lentes coloridas, levaram ao desenvolvimento de práticas ligadas à fotorretinologia, terapia por cores ou cromoterapia. No passado utilizou-se máquinas que dirigiam luzes coloridas pulsáteis em direção aos olhos e que promoveriam a cura de erros refracionais, problemas de coordenação motora e outros problemas de saúde. Nos Estados Unidos a venda de máquinas que podem irradiar feixes de luzes coloridas com propósito curativo é proibida por lei por ser considerada prática de charlatanismo e é passível de prisão por fraude.

Diferentes práticas ligadas à cromoterapia continuaram a ser oferecidas  ao longo do século XX e ainda hoje. Esta abordagem terapêutica existe há mais de 100 anos, mas sua eficácia nunca chegou a ser comprovada. Faz parte de um grupo de tratamentos alternativos baseados em observações empíricas que não resistem ao escrutínio científico e possuem características esotéricas e holísticas. Estes tratamentos são geralmente recomendados para problemas não relacionados aos olhos ou à visão, não fazem parte do arsenal de tratamentos da oftalmologia e sua utilização não está relacionada aos achados do exame oftalmológico. Existe um público específico de clientes que sentem-se atraídos por este tipo de tratamento que propala efeitos extraordinários, através de propriedades ligadas à energia eletro-magnética e à suposta ação sobre a glândula pineal, apesar de sua eficácia não ter sido comprovada em estudos científicos bem controlados.

A cegueira segundo Borges

Jorge Luis Borges, escritor e poeta Argentino, ficou cego depois de adulto, provavelmente em decorrência de glaucoma.

No texto La ceguera, relata sua experiência pessoal com a cegueira. Expõe o tema em uma palestra no ano de 1977, cujo vídeo pode-se acessar abaixo.

Borges descreve as percepções ligadas à sua cegueira, cegueira total em um olho e parcial no outro, que diz ser modesta por se tratar de experiência pessoal.

Consegue perceber o verde e o azul e mesmo o amarelo. Entretanto, não é capaz de perceber o vermelho, o negro ou o branco. Relata que sempre teve o costume de dormir em completa escuridão e que durante muitos anos o incomodou perder a percepção do negro. Define a sua cegueira como um mundo de neblina esverdeada ou azulada e vagamente luminosa, que refere como sendo o mundo do cego. O branco desaparece e se confunde com o cinza.

No poema El ciego (1972) escreve “O azul e o vermelho são agora uma névoa e duas vozes inúteis. O espelho que olho é algo cinza… Agora apenas perduram as formas amarelas“. Sua cegueira instalou-se em um lento crepúsculo que durou mais de meio século.

A deficiência de visão cromática associada ao glaucoma é variável entre os portadores da doença. Alguns, como Borges, descrevem perda mais acentuada no espectro do vermelho; outros relatam perda no espectro azul-amarelo. O oftalmologista Louis Émile Javal, que contribuiu ao avanço do conhecimento sobre o estrabismo e glaucoma, ficou completamente cego por glaucoma e relatou perda de visão cromática progressiva, inicialmente na cor vermelha, semelhante a Borges.

Veja abaixo o vídeo da sua palestra:

Referências

1) Jorge Luis Bores – La ceguera (Obras Completas – Vol. III  – 1975-1985, Emeceé Editores, p. 276-286); 2) Sánchez, B. “On his blindness”: Borges, Milton y la ceguera. (Universidad Nacional del Cuyo; Mendoza-Argentina); 3) García-Guerrero,J.; Valdez-Garcia,J.; González-Treviño, JL La Oftalmologia en la Obra poética de Jorge Luis Borges (I) Arch Soc. Esp. Oftalmol. 2009; 84:411-414; 4) García-Guerrero,J.; Valdez-Garcia,J.; González-Treviño, JL La Oftalmologia en la Obra poética de Jorge Luis Borges (II) Arch Soc. Esp. Oftalmol. 2009; 84:481-482; 5) García-Guerrero,J.; Valdez-Garcia,J.; Villarreal-Marroquín, N.;González-Treviño, JL La Oftalmologia en la Obra poética de Jorge Luis Borges (III) Arch Soc. Esp. Oftalmol. 2009; 84:537-540; 6) Zabaluev, V.N.John Milton’s Blindness as a Dource of “Paradise Lost” (Moscow State University)

Coçar os olhos é prejudicial

Ao longo dos anos de trabalho como oftalmologista, ao atender pacientes nos quais identificamos a existência de ceratocone, solicitamos que mostrassem a forma de coçar os olhos.

Identificamos que, na absoluta maioria dos casos, os pacientes relatam hábito de esfregar ou coçar os olhos apertando ou massageando-os com força.

Solicitamos a alguns pacientes a permissão para fotografá-los enquanto demonstravam a forma de coçar os olhos. A seguir, algumas fotos demonstrando os padrões que identificamos como repetitivos entre os portadores de ceratocone.

O conceito de que coçar os olhos é fator de risco para o aparecimento e progressão do ceratocone é hoje aceito universalmente.

Nossa opinião é que coçar, apertar, esfregar os olhos, constitui o principal fator de risco e é também fator causal relacionado ao aparecimento e progressão do ceratocone.

O ceratocone é uma doença bastante comum. Consideramos que todas as pessoas deveriam ser orientadas a evitar massagear, esfregar ou cocçar os olhos, em todas as circunstâncias. Esta orientação é particularmente importante em crianças e jovens, já que o ceratocone se manifesta geralmente nesta faixa de idade.

Destaque-se que coçar os olhos pode estar relacionado à progressão de alguns casos de miopia e astigmatismo, que podem ser manifestações iniciais do ceratocone. Além disso, esfregar os olhos pode causar flacidez palpebral e é fator de risco para o desenvolvimento da síndrome de frouxidão palpebral (“floppy eyelid syndrome”).

O peixe quatrolhos

O peixe quatrolhos. Curiosidade da fauna brasileira.

O peixe quatrolhos, Anableps anableps, habita rios e lagos no norte e nordeste do Brasil.Vive em águas calmas e caça insetos e pequenos crustáceos próximo à superfície.

Apesar de estes peixes possuírem apenas dois olhos, cada olho é capaz de enxergar, simultaneamente, acima e abaixo da linha da água, permitindo que o peixe capture seu alimento no ar e na água. Essa particularidade ajuda, também, na proteção contra predadores que se aproximem por cima ou por baixo d’água.

Os olhos do Anableps anableps são divididos em dois sistemas ópticos, com duas aberturas pupilares, duas hemiretinas e uma córnea dividida por um septo horizontal.

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Referências:

1)Simmich, J.; Temple, S.E.; Collin, S.P. A fish eye out of water: epthelial surface projections and aquatic corneas of the “four-eyed fish” Anableps anableps. Clinical and Experimental Optometry 2011, 95:140-145 (foto)

2)Schwab, IR; Ho, V.; Roth, A; Blankenship, TN; Fitzgerald, PG Evolutionary attempts at 4 eyes in vertebrates. Tr. Am. Ophth. Soc. 2001, 99: 145158

3) Arruga, H O olho do quatrolhos. Barcelona, 1941 (Livro)

O pássaro que enxerga com os olhos fechados

O pássaro que enxerga com os olhos fechados: o “olho mágico” do Urutau (Nyctibius griseus — “Grey Potoo”).

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O urutau ou mãe-de-lua é uma ave de hábitos noturnos que vive, principalmente, na região sudoeste do Brasil. Durante o dia permanece com os olhos fechados durante a maior parte do tempo. Esta ave é mais ativa nas primeiras horas da noite; possui olhos grandes, posicionados posteriormente na face.

O urutau apresenta particularidade anatômica em suas pálpebras superiores que consiste em 2 ou 3 pregas, que fazem com que permaneçam duas pequenas aberturas mesmo quando as pálpebras estão totalmente fechadas. Além disso, estas aves podem abrir e fechar as pálpebras de cada olho separadamente.

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A observação de aves em cativeiro, assim como essas particularidades anatômicas, sugerem que estas aves conseguem enxergar quando estão com os olhos fechados (“olho mágico”).

Fendas na pálpebra

Duas pregas na pálpebra

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O urutau utiliza-se da camuflagem durante o dia. repousando em troncos de árvores com cor semelhante à sua plumagem (homocromia). Na foto ao lado e na sequência de fotos apresentadas a seguir, pode-se observar as duas pregas na pálpebra superior da ave, que repousa durante o dia em um tronco de árvore (Fotos tiradas por Cristiane Abreu e cedidas por GB Borinski; Tartarugalzinho – Amapá).

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Borrero H; J.I. Notes on the structure of the upper eyelid of potoos (Nyctibius) The condor 1974; 76:210-211

Cestari, C; Guaraldo, A.C.; Gussoni, C.O.A. Nestling behavior and parental care of the common Potoo (Nyctibius griseus) in Southeastern Brazil The Wilson Journal of Ornithology 2011; 123(1): 102-106

As bruxas e o olho

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As “bruxas” e o olho.

Muitos brasileiros já ouviram, quando crianças, a informação de que o pó das asas de algumas borboletas, mariposas ou “bruxas” pode cegar. Trata-se de uma crendice popular.

As borboletas são insetos com dois pares de asas, encontrados na natureza em diversos tamanhos e cores. Algumas borboletas têm cor acinzentada ou escura e podem ter uma aparência menos agradável do que as borboletas coloridas.

A beleza das borboletas coloridas desperta sensações agradáveis, ligadas à primavera, felicidade e alegria.

As borboletas de cor escura, particularmente as grandes, podem despertar repulsa ou medo. Existem superstições ligadas a estas borboletas, que às vezes são chamadas de “bruxas”.

No Brasil é bem difundida a crença de que o pó da asa destas borboletas pode prejudicar os olhos e mesmo causar cegueira. 

Asas de borboletas ou mariposas são revestidas por um “pó” que contém micro escamas e pode irritar os olhos. Não existe fundamento científico para a crença popular de que pegar borboletas ou bruxas e passar a mão nos olhos pode causar cegueira.

Em 1985 publicamos o artigo “Crendices populares relativas ao olho: as borboletas e o olho” (Waisberg, Yehuda; Machado, Ângelo Barbosa Monteiro; Oliveira, André Aguiar – Revista Brasileira de Oftalmologia; 44(3): 73-81, 1985), no qual estudamos este assunto.

O olho migratório do Linguado

Peixes da família do linguado (flat Teleosteans; Flat-fish) são muito apreciados na culinária. Em inglês, utiliza-se palavras diferentes para peixes desta família utilizados na alimentação: halibut – alabote; plaice – solha; turbot – rodovalho; sole fish- linguado.

Esses peixes possuem o corpo oval e achatado, medem de 30 a 50 cm de comprimento e pesam de 2 a 3 Kg. Apresentam mimetismo, se defendem através de manchas em seu corpo que imitam os locais onde vivem.

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Estes peixes apresentam um fenômeno curioso e único na natureza. Ao nascer,  apresentam a forma usual do corpo da maioria dos peixes,  “em torpedo”, com um olho de cada lado da cabeça. À medida que se tornam adultos,  passam a viver no fundo do mar e ficam deitados sobre um dos lados, de tal forma que um dos olhos permaneceria direcionado para baixo.

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Conforme crescem, tornam-se achatados e um dos olhos migra, de forma dextrógira ou levógira, similar às pessoas canhotas e destras. Nos levógiros, como o Linguado, ocorre migração do olho para o lado esquerdo da cabeça e nos dextrógiros, como o Rodovalho,  ocorre migração para o lado direito da cabeça. Eventualmente, os olhos ficam posicionados ao lado um do outro. Os dois olhos, como o resto da cabeça, ficam assimétricos.

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Unknown-7Completada a migração esses peixes adquirem uma ampla visão binocular para cima, enquanto permanecem deitados no fundo do oceano. Muitas vezes o corpo permanece oculto na areia e apenas os olhos permanecem exteriorizados.

Referências
– Duke-Elder, S. The Eye in evolution. System of Ophthalmology – Vol.I; Henruy Kimpton, London; 1958; pag. 328-329
– Friedman, M. The evolutionary origin of flatfish asymetry. Nature07109; Vol. 454/10 July 2008|doi:10.1038
– http://pt.wikipedia.org/wiki/Linguado

Enxaqueca

Enxaqueca é uma doença que se manifesta em episódios isolados, mais ou menos frequentes, e que se acompanha frequentemente de distúrbios visuais ilusórios temporários, seguidos de dores de cabeça (cefaleia). Em 3/4 dos portadores, a doença se manifesta antes dos 20 anos de idade. O diagnóstico se baseia, principalmente, no relato dos sintomas pelo paciente.

Uma das características mais dramáticas da enxaqueca são as alterações visuais, que ocorrem em aproximadamente 1/3 dos portadores da doença. Os distúrbios visuais variam entre os pacientes e mesmo entre os episódios de enxaqueca de cada paciente. Os sintomas visuais podem ocorrer isoladamente, sem dores de cabeça, mas geralmente precedem a dor de cabeça e podem ser seguidos de aumento da sensibilidade à luz, náusea e vômitos. Os sintomas sensoriais que indicam o início do episódio de enxaqueca recebem o nome de aura. Tipicamente, os pacientes observam figuras estreladas de luzes coloridas em um dos lados do campo visual, que gradualmente se expandem e se abrem, mantendo a aparência luminosa em zig-zag. O paciente não é capaz de enxergar na área do distúrbio visual, que recebe o nome de escotoma cintilante. Este sintoma aparece e evolui ao longo de alguns minutos e gradualmente desaparece ao longo de 10 a 20 minutos.

Muitas pessoas ficam assustadas quando apresentam as alterações visuais associadas à enxaqueca e buscam consulta oftalmológica com urgência. Na maioria das vezes, quando o paciente é atendido, as alterações visuais já desapareceram e o exame oftalmológico não evidencia nenhuma alteração. Os sintomas da enxaqueca  estão relacionados às alterações passageiras na excitação do córtex cerebral, de causa mal conhecida.

Os primeiros desenhos da aura visual foram publicados pelo astrônomo britânico Hubert Airy, em 1857, que descreveu e desenhou suas experiências visuais durante seus episódios de enxaqueca e despertou o interesse da comunidade científica. Descrições bastante precisas já estavam presentes em textos da escola hipocrática: “Phoenix’s problem: he seemed to see flashes like lightning in his eyes, mostly the right. And when he had suffered that a short time, a terrible pain developed toward his right temple ….”.

Referência
Eadie, MJ Hubert Airy, comtemporary men of science and the migraine aura. J R Coll Physicians Edinb 2009; 39:263-7