Catarata

Lentes intraoculares “premium”

3 março 2015

Neither professionals nor clients may be aware of how their beliefs are shaped by related slogans and images repeated by many players in many venues. (Eileen Gambrill -PROPAGANDA in the Helping Professions).

Nas cirurgias de catarata implanta-se uma lente intraocular que tem por objetivo substituir oticamente o cristalino. A escolha da lente a ser implantada envolve critérios individualizados para cada paciente.

As lentes intraoculares usualmente implantadas proporcionam ótimos resultados no que se refere à segurança e qualidade da visão. Há alguns anos, passaram a ser fabricadas lentes intraoculares que corrigem também o astigmatismo, lentes intraoculares tóricas e  também lentes intraoculares multifocais, que podem oferecer ao paciente correção visual satisfatória para longe e perto. As lentes intraoculares tóricas e multifocais geralmente são apresentadas aos pacientes como “lentes intraoculares premium” ou como lentes intraoculares de tecnologia avançada, LIOTA (lentes asféricas monofocais, tóricas, multifocais ou multifocais tóricas).

Lentes intraoculares tóricas ou multifocais têm custo mais elevado do que lentes esféricas de mesma procedência e geralmente não são fornecidas por planos de saúde ou pelo SUS. A escolha dessas lentes deve ser uma decisão a ser tomada pelo paciente, a partir das características de seu olho e de suas expectativas quanto à necessidade do uso de óculos após a cirurgia da catarata, com base nas informações que recebe de seu médico e gera um custo a ser pago pelo paciente.

Muitos pacientes ficam extremamente satisfeitos com a visão obtida após a implantação das lentes intraoculares tóricas ou multifocais. Entretanto, diversos pacientes ficam insatisfeitos após a implantação destas lentes. Os motivos principais da insatisfação são a perda da qualidade da visão principalmente à noite, devido à redução da sensibilidade de contraste, e reflexos ou ofuscamento com luzes, particularmente após a implantação de lentes multifocais. Além disso, alguns pacientes podem continuar necessitando de óculos, para perto, para longe ou para ambos, o que pode causar frustração em suas expectativas (Schena, L.B.  Working to make the premium IOL patient happy.  Eye Net Magazine, February 2009; American Academy of Ophthalmology).

O uso da palavra “premium” para se referir a essas lentes é equivocado e deve ser banido por oftalmologistas e pela indústria.  A palavra “premium” aparece em muitos produtos médicos ou não médicos e  esta palavra é utilizada para sugerir superioridade frente às outras alternativas, com finalidade de induzir o cliente ao consumo de produtos, inclusive pagando  um preço mais elevado por eles.

Em sites de vendas online, ao se digitar a  palavra “premium”, obtém-se dezenas de produtos nos quais esse termo está incorporado ao nome: sabão em pó,  panettone, milho de pipoca, cerveja, lombo congelado, chá,  desodorante, papel higiênico, saco para lixo , azeitona, castanha, café, chocolate, papel A4, entre outros.

O nome escolhido ou adjetivo utilizado para se referir a determinado produto é uma técnica bem conhecida em propaganda. Quando você lê “premium” no nome de um produto, automaticamente, seu cérebro manda um estímulo dizendo que aquele produto é de alta qualidade. Esta tática frequentemente é utilizada em substituição à argumentação lógica e racional que passa a ser substituída por uma ideia ou crença, baseada nos méritos do nome escolhido. Trata-se de uma falácia cognitiva para despertar preconceitos positivos que irão influenciar uma escolha, o que é chamado de argumentum ad hominem.

O uso da palavra “premium” ou mesmo lentes de tecnologia avançada para se referir a determinadas lentes intraoculares é inadequado. O seu uso pode influenciar o paciente sem permitir uma avaliação adequada de vantagens e desvantagens das diferentes lentesAs palavras utilizadas pelo médico devem permitir a avaliação e escolha livres e conscientes pelo paciente. O paciente pode optar por lentes nacionais ou importadas, esféricas, asféricas, tóricas,  multifocais etc., mas deve saber que nenhuma destas lentes é “premium”.

Leia também o artigo Excessos da medicina e como preveni-los

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